Título: Os difíceis problemas nacionais
Autor: Marcos Venícius Barreto Magalhães
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/09/2004, Opinião, p. A-3

Soluções rápidas só existem nos projetos de marketing político. A nossa organização econômica, no período colonial, se estruturou como de autoridade (portuguesa), em vez de uma economia de mercado (a qual definiria o que produzir). Já no final do século XIX até 1930 tínhamos um Estado não-interventor, com milhares de produtores e consumidores; portanto, um sistema de mercado, onde os preços manteriam o equilíbrio geral da economia, ou mesmo um sistema de flutuações, onde os ciclos estariam presentes (como as perturbações geradas pelos altos-e-baixos do café) e a infra-estrutura sendo servida pelo setor privado. Daí até o final da década de 80 nos organizamos como um sistema misto, pois o mercado não produziu o pleno emprego e os preços não alocavam de forma ótima os recursos, ou mesmo uma economia funcionando em ciclos. Desse modo, o Estado passou de regulador para financiador e produtor. Mas, na década de 90, voltamos ao laissez-faire, embora com um Estado regulador. Aí houve ainda as políticas compensatórias como SUS, descentralização dos recursos para o ensino básico e algumas mudanças de políticas públicas na busca da igualdade econômica do cidadão e para dar-lhe a condição social faltante, haja vista a reconquista de direitos políticos e civis. Contudo, no período de 1980/90, o sistema misto brasileiro, no que tange à alocação dos recursos, foi incompetente. O investimento em energia elétrica de 1970/80 chegou a 2,1% do PIB e de 1981/89 caiu para 1,55%; nas telecomunicações, de 1980/80 atingiu 0,80% do PIB e de 1981/89 só foi investido 0,43%; em transportes, no período de 1970/80 foi de 2,06% do PIB e de 1981/89 foi de 1,49%; e no saneamento, de 1970/80 foi de 0,46% do PIB, caindo, no período de 1981/89, para 0,24%. Já na década de 90, com o Estado deixando de ser produtor e passando a ser apenas regulador, coube a incompetência ao setor privado, devido principalmente às condições econômicas medíocres disponibilizadas e estruturadas pelo Plano Real. Enquanto, no período de 1990/94, o investimento em energia elétrica atingiu 0,91% do PIB, em 1997 só chegou a 0,57%; nas telecomunicações, apenas manteve a média dos anos 70; nos transportes só atingimos 0,85% em 1997; e no saneamento ficamos em 0,25%. Portanto, nas duas décadas (80 e 90), seja por falta dos investimentos do Estado, seja por falta de investimento do setor privado (houve juros altos, baixa expectativa de retorno de seus investimentos e insegurança), o Brasil, por seus governantes, patrocinados pelo seu povo, não buscou o básico de bem-estar social dos seus cidadãos. Os investimentos nos setores de infra-estrutura, no total, atingiram 5,42% do PIB no período 1970/80, 3,71% nos anos 1981/89 e 2,45% em 1997. Em vista dessa total carência de investimentos na área de infra-estrutura, o crescimento econômico fica limitado. A dívida líquida do setor público e seus encargos dificultam também tentativas de mudar esse quadro. Essas duas forças combinadas, dentre outras, levam-me a refletir e ponderar que um próximo governo não poderá ter como marketing o anúncio de soluções dos nossos problemas de maneira fácil e rápida, como o fez o governo atual. Portanto, declaro o meu voto, hoje: sim, para o partido político ou o presidenciável que negar à nação, para o futuro, o crescimento fácil e rápido diante das dificuldades existentes.