Título: ONU diz que contraventores movimentam R$ 2 trilhões
Autor: Romoaldo de Souza
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/09/2004, Legislação, p. A-15

O presidente Lula defendeu ontem a mudança no binômio "Estados fracos e paraísos-fiscais fortes" para que a sociedade deixe de ser refém do crime organizado e da lavagem de dinheiro. Lula afirmou que "essa gente" é ligada às instituições da República, com ramificações "na política, no empresariado, no sistema financeiro e no Judiciário". Ele disse que alguns dos contraventores -que segundo dados das Nações Unidas, movimenta perto de US$ 2 trilhões por ano- se apropriam de obras sociais para "lavar" parte do dinheiro do crime organizado. "Mas, na verdade, tudo isso é para acobertar a quantidade enorme de dinheiro público, de dinheiro sujo que entra nos países para incentivar o narcotráfico, o crime organizado", assegurou.

O presidente também defendeu mudança na legislação, não apenas para colocar na cadeia quem comete o crime de lavagem de dinheiro, mas para restituir o que foi roubado pelo crime organizado. "A coisa que mais entristece é saber que uma pessoa foi punida, que está há quatro ou cinco anos na cadeia, e depois de todo esse tempo você percebe que não se conseguiu trazer um único centavo que essa pessoa roubou de volta para os cofres da instituição que foi roubada", afirmou.

Entretanto, na análise feita por Giovanni Quaglia, representante das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) para o Brasil, "é difícil chegar a dados muito confiáveis em relação ao crime organizado". Mesmo assim ele assegurou que dos US$ 2 trilhões anuais que são movimentados, US$ 1 trilhão vem da corrupção, entre US$ 300 a US$ 400 bilhões são das drogas e o mesmo valor é movimentado pelos traficantes de armas. "O restante equivale a tráfico de seres humanos, contrabando e roubo de carga."

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou que o governo Lula tem articulado todas as forças organizadas para combater a lavagem de dinheiro. Bastos defendeu que é preciso começar fazendo "uma reforma forte e profunda do Judiciário" e articular as várias instituições que já estão empenhadas em desarticular o crime organizado.