Título: Saldo comercial dá folga para a expansão
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Fonte: Gazeta Mercantil, 03/09/2004, Opinião, p. A-3

A balança comercial brasileira continua a apresentar excepcional performance. Em agosto, foram registrados três recordes históricos para o mês: de exportação (US$ 9,06 bilhões); de importação (US$ 5,62 bilhões); e de superávit, que atingiu US$ 3,43 bilhões, também o melhor resultado mensal deste ano.

De janeiro a agosto, o valor acumulado das exportações situou-se em US$ 61,35 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 39,40 bilhões, com saldo positivo de US$ 21,95 bilhões. No cômputo dos últimos 12 meses, o superávit é de US$ 31,62 bilhões, resultante de exportações de US$ 88,93 bilhões e importações de US$ 57,62 bilhões.

Por sua vez, a corrente de comércio, ou soma de exportações e importações, tanto no período de janeiro a agosto quanto nos últimos 12 meses, também atingiu patamares históricos: US$ 100,76 bilhões e US$ 146,24 bilhões, respectivamente.

Diante desse desempenho, especialistas em comércio exterior já refazem suas estimativas e projeções para este ano. Conforme este jornal informou, economistas da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) e da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) acreditam que o superávit comercial deverá ultrapassar a marca dos US$ 32 bilhões. Eles projetam exportações, até o final deste ano, entre US$ 93 bilhões e US$ 95 bilhões, e compras no mercado externo de US$ 61 bilhões a US$ 63 bilhões. Convém lembrar que no ano passado as exportações somaram US$ 73 bilhões e as importações, US$ 48 bilhões, e que a balança comercial fechou com superávit de US$ 24,8 bilhões, também um valor recorde.

Na avaliação dos mesmos especialistas, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional acima de 4%, com a retomada do consumo interno, não terá impactos negativos sobre o comércio exterior este ano. Eles argumentam que as empresas não terão de redirecionar suas vendas para o mercado interno porque os embarques para o exterior, até o final do ano, corresponderão a operações já contratadas ao longo dos últimos meses.

Esse é um aspecto crucial, pois não foram somente fatores conjunturais, como a valorização das commodities agrícolas no mercado internacional, que impulsionaram as exportações brasileiras neste ano. A performance extraordinária das vendas externas também resultou de um vigoroso esforço de promoção comercial e abertura de novos mercados.

Esse esforço não pode ser esmorecido sob a pressão da necessidade de atendimento da demanda interna, pois o avanço no mercado internacional exige tempo e a transposição de inúmeras dificuldades, bem conhecidas pelos exportadores. É preciso consolidar cada espaço conquistado e buscar avanços constantes, que ampliem a ainda insignificante participação brasileira no comércio mundial.

Apesar do vigoroso crescimento das vendas externas, ainda não está sedimentada, no País, uma cultura exportadora. Muitas empresas brasileiras ainda vêem o mercado internacional como uma saída momentânea em períodos de crise interna. Passada a recessão, relega-se o mercado externo a uma preocupação secundária.

Em nosso entender, obter vultosos superávits na balança comercial é de fundamental importância, entre outras razões porque reduz a vulnerabilidade externa do País. Contudo, para crescer o Brasil também terá de aumentar suas compras no mercado internacional. Assim, o crescimento das importações este ano é positivo porque sinaliza uma retomada dos investimentos, uma vez que o maior peso corresponde a máquinas, equipamentos, insumos e matérias-primas industriais.

As estimativas de crescimento do PIB este ano vêm sendo revistas a cada semana, à medida que são divulgados indicadores de produção industrial, emprego e consumo de energia, entre outras variáveis. Já há quem acredite que a economia brasileira crescerá até 5%. Um sentimento de otimismo permeia o conjunto da sociedade, mais forte do que o percebido no final do ano passado.

Então, os formuladores da política monetária jogaram um balde de água fria nas expectativas do empresariado, ao interromperem a trajetória declinante da taxa básica de juros (Selic). Este ano a história pode se repetir, desta vez com elevação da Selic, como já sinalizou a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom).

Além de não existirem evidências concretas de crescimento da inflação, o aumento do juro não é a única opção de combate a um eventual aumento de preços. Neste sentido, a importação de bens de consumo poderá ser uma alternativa na contenção dos preços, sem prejuízo para as exportações.

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kicker: Com disponibilidade cambial para importar mais, o Brasil ganha fôlego para poder dar seqüência ao crescimento já iniciado