Título: MPF tenta desvendar as operações do Opportunity
Autor: Luiz Queiroz e Hugo Marques
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/09/2004, Política, p. A-8

O Ministério Público Federal encaminhou informações à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre possíveis ligações entre o Opportunity Fund, do empresário Daniel Dantas, com o MTB Bank de Nova York, instituição financeira norte-americana investigada pela CPI do Banestado por ter realizado operações de lavagem de dinheiro para o crime organizado e o terrorismo. As ramificações seriam ainda maiores, segundo o MPF: um dos doleiros que atuaram no propinoduto dos fiscais do Rio de Janeiro teria trabalhado para Dantas, num esquema de captação de dinheiro de brasileiros para o fundo de investimentos exclusivo para estrangeiros.

No último dia 30, o procurador da República Luiz Francisco de Souza enviou o ofício 474 para o presidente da CVM, Marcelo Fernandez Trindade, preocupado com os rumos do processo que o órgão vem movendo desde 2001 contra o fundo de investimentos de Daniel Dantas. O Opportunity Fund tem sede nas Ilhas Cayman, e vendeu cotas de participação para pelo menos 24 brasileiros, um tipo de operação considerada ilegal porque esse fundo é reservado apenas para estrangeiros.

A CVM deverá julgar o processo contra o Opportunity Fund no próximo dia 27, que além de Daniel Dantas, também envolve a irmã, Verônica Dantas.

Segundo ofício encaminhado pelo procurador à CVM, o Opportunity Fund, tem como um de seus cotistas a empresa Depolo Corporation. A CPI do Banestado teria constatado nas suas investigações sobre lavagem de dinheiro no Brasil, que esta empresa movimentou pelo menos US$ 1,7 bilhão de "doleiros" por meio do MTB Bank. "A Depolo possui (é cotista) no Opportunity Fund, de número 030100-089", afirma em seu ofício o procurador Luiz Francisco.

No mesmo documento encaminhado à CVM, o procurador da República lembra que em recente reportagem publicada pelo jornal Folha de São Paulo, a Depolo seria do doleiro, Dario Messer, que atuou no "propinoduto" dos fiscais do Rio de Janeiro. Messer tem mandado de prisão expedido pela Polícia Federal, após a realização da operação Farol da Colina (Beacon Hill).

"Tudo indica que o doleiro Dario Messer operava em conjunto com o Grupo Oppoortunity. Os clientes do Opportunity Fund eram abordados no Brasil, faziam depósitos "em reais" e o próprio Grupo Opportunity acionava pessoas como Dario e o Silvio Anspach (doleiros) para fazer a operação de depósito dos dólares nas contas do Opportunity Fund", afirma o procurador da República.

Luiz Francisco sugeriu ao presidente da CVM, Marcelo Trindade, que requeira junto à CPI do Banestado informações que possam comprovar o envolvimento do banco de Daniel Dantas com a Depolo Corporation. Como a Depolo teria atuado na lavagem de dinheiro pelo MTB Bank, as ligações desta empresa com o Banco Opportunity são evidentes, segundo o procurador. Ele entende que seria importante a CVM adiar o julgamento do processo contra o Opportunity, até que a CPI do Banestado conclua seus trabalhos. Um novo ofício neste sentido deverá ser encaminhado, nos próximos dias, pelo procurador Luiz Francisco de Souza.