Título: O clima é de cauteloso otimismo
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/09/2004, Nacional, p. A-6

Procura de crédito pelas empresas é ainda desproporcional à expansão da economia. O crescimento econômico do País, puxado no segundo trimestre do ano pela demanda doméstica, está animando o setor privado, mas muitos empresários ainda estão na fase, que até certo ponto pode ser normal, em que preferem não colocar a mão no bolso, ou procurar os bancos, para investir em novos projetos. Um dos motivos para isso é a cautela em aguardar para ter certeza de que o crescimento se manterá. "A procura por crédito esté desproporcional à expansão da economia", afirma o presidente do Bradesco, Marcio Cypriano.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Horacio Lafer Piva, essa desproporção está acima do normal. "É muito curioso o que está acontecendo. Ha uma certa preocupação sobre a sustentabilidade do crescimento", diz ele. A alemã Basf prevê investir no Brasil US$ 300 milhões de 2004 a 2007, em medidas como modernização e pequenos aumentos de capacidade de produção, afirma Rolf-Dieter Acker, presidente da Basf América do Sul. "Ainda é muito cedo para decidir sobre um aumento do valor. Isso vai depender da conjuntura", diz ele, que com outros 140 presidentes e vice-presidentes de empresas no Brasil participa do 9 Meeting Internacional em Sun City, África do Sul, organizado pela Doria Associados.

Para Cypriano, hoje as empresas de maior porte estão capitalizadas para investir. As com faturamento de até R$ 100 milhões ao ano devem comecar a tomar crédito. "As empresas ainda aguardam um pouco". A procura deve crescer com maior vigor no último trimestre, afirma. O Bradesco espera fechar o ano com um aumento de cerca de 15% a 20% na carteira de crédito para grandes empresas. Para as médias, o aumento deve ser de 8%. "A procura por crédito pelas empresas aumentou, mas não é brutal", diz o presidente do HSBC, Elmir Alonso. Segundo ele, movimentos mais expressivos na estão no setor de agribusiness e em outros relacionados à exportação. "Não vejo um movimento forte para plantas novas e aumento de capacidade."

Abilio Varela, presidente da TNT Express Brasil, diz que desde abril nota um maior número de projetos das empresas, incluindo áreas com indústria automobilística, eletroeletrônicos e telecomunicações. A TNT tem um plano de investir para aumentar sua rede no País. Como será essa ampliação, ele não dá detalhes. A receita por entrega da empresa deve crescer cerca de 3% neste ano.

Para Piva, novos anúncios de investimentos devem se tornar mais frequentes no início do próximo. A taxa de formação de capital fixo sobre o PIB pode fechar 2005 em cerca de 23% a 25%. Desde que algumas decisões, que também amarram hoje os investimentos, sejam tomadas, como a entrada em vigor para regras para as Parcerias Público-Privadas (PPP), cujo projeto de lei está emperrado no Congresso, avanços na aprovação da Lei de Falências e aprovação de marcos regulatórios, que dão mais confiança ao investidor estrangeiro. "Há investimento direto estrangeiro querendo entrar no País" afirma. O presidente da Fiesp esteve no Japão em agosto. "Os japoneses estão voltando a olhar para o Brasil com mais carinho. E há possibilidade de investimentos de grande porte."

Quanto mais os investimentos demorarem a sair, mais difícil pode ficar de sustentar o crescimento. Novos recursos poderão ainda dar essa sustentação e evitar desvios de exportações para atender o mercado interno. Esse desvio já está ocorrendo e é algo que o governo quer evitar. A Motorola já sentiu a pressão do mercado doméstico sobre suas exportações. Parte delas teve de ser desviada para abastecer a demanda local, embora nenhum mercado externo tenha sido deixado de lado. Segundo Luis Cornetta, presidente da fabricante de celulares, em junho a Motorola investiu US$ 11 milhões em aumento de capacidade.

O ministro do Desenvolvimento, Industria e Comercio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirma que diariamente é procurado por empresas que dizem que farão investimentos. E afirma que a linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciada recentemente, para capital de giro, pode ajudar a evitar que o setor privado de menor atenção ao mercado externo. "Vou atrás de R$ 15 milhões dessa linha", diz o presidente da Estrela, Carlos Tilkian. Segundo ele, os recursos podem ajudar a fabricante de brinquedos a ter uma política comercial mais agressiva e aumentar sua capacidade de desenvolver produtos.

Embora as empresas esperem para ver o que ocorrerá no futuro, a expectativa é otimista. Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree Hotels, afirma que em agosto a ocupação dos hotéis voltados mais para negocios voltou a aquecer, após desaceleração em meados do ano.