Título: Mais de 500 vítimas na Rússia
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Fonte: Gazeta Mercantil, 06/09/2004, Internacional, p. A-10
Em10 dias foram três ações terroristas no país. Ontem, três suspeitos foram detidos. Três pessoas foram detidas pelas forças de segurança russas por suspeitar que estão vinculadas com o comando terrorista que invadiu uma escola em Beslan, Ossétia do Norte, informou ontem a agência russa Interfax.
As agências de segurança da Rússia tentam determinar se os detidos participaram diretamente no seqüestro ou atuaram como cúmplices dos terroristas. Com sua ajuda, as autoridades puderam identificar os corpos de outros quatro terroristas mortos durante a operação de resgate da escola que se somam a outros 26.
''''Segundo o testemunho dos reféns, um total de 32 terroristas participaram da operação de seqüestro da escola'''', afirmou Sergei Fridinski, Procurador-Geral adjunto da Rússia para o Cáucaso Norte.
De acordo com a Interfax, as autoridades russas ainda não puderam confirmar que Magomed Yevloyev, o suposto líder dos terroristas, tenha sido morto na invasão da escola. De origem inguche, Yevloyev é um dos mais importantes lugar-tenentes da guerrilha chechena e braço direito de Shamil Basayev, considerado pela Rússia "terrorista e inimigo público número um".
O ministro do Interior da região de Ossétia do Norte, Kazbek Dzantiyev, ofereceu sua renúncia, que não foi aceita. "Depois do que aconteceu em Beslan eu não tenho direito de manter este cargo, tanto como autoridade quanto como cavalheiro", disse, segundo a agência Itar-Tass. Mas já há pessoas que pedem a demissão dos responsáveis das estruturas de segurança do país. "Se têm consciência, deveriam ir embora", disse o vice-presidente da Duma (Câmara dos Deputados), Liubov Slizka, do partido governista Rússia Unida.
Relatos oficiais dizem que as forças de segurança entraram no ginásio da escola na sexta-feira depois que separatistas chechenos, que mantinham 1.000 reféns, começaram a disparar contra crianças que fugiam em pânico após duas explosões.
Foi a mais sangrenta crise de reféns em décadas. Metade dos mortos são crianças. O restante são professores, pais e parentes que participavam das festividades de primeiro dia de aula.
A tragédia abalou a política do presidente Vladimir Putin em relação à turbulenta região caucasiana e levantou sérias dúvidas sobre sua capacidade de acabar com o separatismo da Chechênia. O seqüestro na escola aconteceu depois de atentados contra dois aviões e da explosão de um carro-bomba perto de uma estação de metrô em Moscou.
Com isso, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, atravessa um momento crucial em seu governo devido aos aproximadamente 500 mortos e outros tantos feridos em dez dias, todos vítimas da guerra contra o terrorismo que há cinco anos prometeu vencer. Putin fez essa promessa em 1999, quando era praticamente um desconhecido, depois de uma incursão armada de extremistas islâmicos no Daguestão a partir da vizinha Chechênia. Em março de 2000, depois de três meses como chefe de Estado interino e durante um começo vitorioso da segunda guerra da Chechênia, Putin foi eleito presidente.
Quatro anos e meio depois, Putin foi obrigado a admitir que a debilidade da Rússia levou o terrorismo internacional a declarar uma "guerra total" ao povo russo. Em nota divulgada no sábado, o presidente russo atribuiu a desproteção do país em grande parte à desintegração da União Soviética e às dificuldades da transição econômica.