Título: WEF debaterá competitividade de Pequim
Autor: Cláudia Bozzo
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/09/2004, Internacional, p. A-10

Apesar das cifras extraordinárias de crescimento, produção e consumo, com mercadorias vendidas para todo o mundo, a China ocupou em 2003-2004 o 44º lugar, na classificação de países mais competitivos, elaborada pelo World Economic Forum (WEF), com base em pesquisa que inclui 102 países. (Em primeiro lugar vem a Finlândia).

O economista chefe e diretor do Programa de Competitividade Global do World Economic Forum (WEF), Augusto Lopez-Claros, diz que é fácil explicar as razões desse fenômeno. "Para o WEF, os fatores considerados para determinar se um país é competitivo ou não, incluem questões mais complexas que os dados meramente econômicos. No caso da China, os problemas incluem uma burocracia ineficiente, um sistema financeiro não confiável, problemas de infra-estrutura, corrupção, mão-de-obra mal preparada e taxas de câmbio desfavoráveis".

Fórum em Pequim

O boliviano Lopez-Claros, primeiro latino-americano a ocupar o cargo de diretor na entidade, e que antes foi economista chefe da Lehman Brothers em Londres e economista no FMI, além de lecionar Economia na Universidade de Santiago do Chile, é especialista em mercados emergentes e integração econômica européia. Ele participará, de 12 a 13 de setembro, em Pequim, do Forum patrocinado pelo WEF para comemorar seus 25 anos na China. Ele deu entrevista por telefone a este jornal, de Genebra, Suíça. Nesse encontro, do qual participarão 450 representantes, será debatida a possibilidade de a China encaminhar sua economia para um desenvolvimento sustentado, equilibrando um crescimento rápido mas racional.

Segundo Lopez-Claros, "o mundo todo se beneficia de uma China forte, economicamente. Pode-se ver isso na recuperação dos preços das commodities, o que leva prosperidade para muitos outros países. O país ainda é o número um, em todo o mundo, a atrair investimentos estrangeiros". Além disso, diz o economista, tal crescimento "se manifesta na maior presença política do país, em todas as instâncias".

Mas os problemas existem, e são muitos. Na questão de urbanização, as projeções para o futuro indicam, segundo Lopez-Claros, uma elevada concentração urbana, o que vai gerar problemas de infra-estrutura, ambientais e de habitação. "Outro grande problema, que afeta tanto a China, como a Índia e a Rússia, é a Aids, e segundo epidemiologistas, esses países serão os novos centros de concentração da doença"

A China também tem um sistema bancário que beira a precariedade. "A seguridade social, pode-se dizer que não existe, e os níveis de desemprego têm crescido nos últimos tempos", diz Lopez-Claros.

Brasil e México

Os fatores que fazem da Finlândia e de outros seis países europeus classificados entre os dez mais competitivos do mundo estão distantes da China, ainda. "Embora Xangai e Pequim possuam excelente infra-estrutura, no que se refere a comunicações, isso não ocorre no restante do país. Os indicadores são fraquíssimos quanto a acesso à internet, telefonia, uso de computadores e tecnologia em geral. O país é muito competitivo em setores que tenham um uso intensivo de mão-de-obra sem grande qualificação". Nesse ponto, Lopez-Claros vê as grandes oportunidades existentes para países como Brasil e México, que podem concorrer com produtos de maior valor agregado, como por exemplo no setor de auto-peças.

No encontro de Pequim líderes de empresas locais e internacionais vão se reunir com importantes autoridades e lideranças chinesas, na discussão de transformações para setores como o bancário, de energia, infra-estrutura e viagens e turismo. "Nesse contexto, vamos falar do papel que a China exercerá no futuro, inclusive dentro da ONU e em outros campos políticos", afirma Lopez-Claros.