Título: Venda a prazo ganha destaque crescente na estratégia das lojas
Autor: Waldo Nogueira e Regiane de Oliveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/09/2004, Comércio & Serviços, p. A-14

Em todas os formatos do varejo, com seus diferentes desempenhos, o prazo de pagamento é uma das principais armas de vendas e não deverá sair da rotina das lojas mesmo que o País volte a crescer de forma sustentável.

Enquanto o comércio eletrônico, ainda restrito a uma elite de consumidores, cresce aos saltos no Brasil, como todo negócio novo e atraente, o varejo tradicional apenas se recupera de um longo período de retração, provocado principalmente pela perda de renda da maioria dos consumidores.

Prevê-se que o comércio virtual fechará este ano com expansão da ordem de 40%, apoiada nas vendas com cartão de crédito. É uma forma de pagamento que viabiliza os negócios à distância, mas não teria tanto sucesso se não contasse com a força do prazo.

Os números divulgados mês a mês mostram que a meta de expansão do comércio virtual é viável. Segundo pesquisa da e-Bit, o setor movimentou R$ 745 milhões no primeiro semestre deste ano, sem considerar passagens aéreas, automóveis e sites de leilão. Trata-se de um crescimento de 51% sobre o mesmo período de 2003.

Para Pedro Guasti, diretor geral da e-Bit, o avanço nas vendas reflete a melhoria nos indicadores econômicos do País e o aumento do número de consumidores: "Em dezembro de 2003, tínhamos cerca de 2,5 milhões de pessoas que já haviam comprado pela internet. Hoje este número está próximo de 2,75 milhões."

Além disso, o valor do tíquete médio das compras online também cresceu. A média do valor gasto durante os primeiros seis meses do ano foi de R$ 299 e ficou aproximadamente 11% acima do registrado em igual período de 2003.

Os cartões de crédito avançam também no comércio convencional, apesar da estagnação dos negócios. Conforme a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o faturamento real do setor, deflacionado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (Ipca), somou R$ 76,01 bilhões no ano passado e caiu 4,7% em relação a 2002. Os cartões de crédito fazem o caminho contrário: sua participação nas vendas dos supermercados cresceu, nos últimos três anos, de 28% para 31,6%.

Débito

Mais notável ainda foi o desempenho dos cartões de débito, que ganham espaço principalmente dos cheques. Sua utilização em supermercados aumentou, entre 2001 e o ano passado, de 7,2% para 12% sobre o faturamento. As compras em dinheiro mantiveram uma participação de 34%.

Por enquanto, o uso de cartões de débito, mais práticos do que cheques, ainda se restringe a pequenas compras. Trata-se de uma boa alternativa para os consumidores, que fazem seus pagamentos de forma mais rápida; e também para os comerciantes, que têm segurança no recebimento das contas e ainda resolvem o problema crônico da falta de troco.

A disseminação do uso de cartões de débito é uma possibilidade diretamente atrelada à melhoria da oferta de empregos e da renda. O avanço progressivo desses indicadores, como se prevê agora, certamente vai estimular as compras à vista, além de consolidar os negócios que dependem de prazos.

O cheque à vista perdeu importância nos supermercados: sua participação no faturamento caiu, em três anos, de 9,1% para 6,5%. Até o cheque pré-datado, concorrente direto dos cartões de crédito, principalmente nas pequenas empresas, recuou de 9,2% para 8,5%.

Os meios eletrônicos de pagamento já têm uma excelente infra-estrutura nos supermercados, onde se generalizou a informatização das frentes de caixa. Isso aparece no universo das 500 maiores empresas analisadas no ranking da Abras, com participação de 67,5% nas vendas do setor em 2003. Numa base de 4.221 lojas, nada menos que 4.013 (95,1%) estavam informatizadas. Em 1993, o total não chegava a 100.

Para os supermercados, que trabalham com uma grande variedade de produtos, o maior benefício desses investimentos é o controle efetivo do negócio e o aumento do poder de negociação com os fornecedores. As relações entre a indústria e o varejo sempre foram marcadas por uma forte disputa.

Até o início dos anos 90, a situação era mais favorável para a indústria, que comandava as negociações. Erros na gestão de lojas, como compras de mercadorias com pouca saída, eram anulados pela inflação sem controle e remarcações diárias de preços.

A situação se inverteu com a informatização do comércio, que passou a ter controle instantâneo sobre as vendas e a rejeitar mercadorias que estacionam nas gôndolas. Em todo o mundo, o varejo ganhou importância porque tem mais informações, sem necessidade de pesquisas, sobre o giro dos produtos e as preferências dos clientes.

Aproximação

A tendência é que o uso de cartões acompanhe a prevista retomada das vendas, durante os próximos meses, nas lojas físicas, cada vez mais próximas das virtuais.

O site de comparação de preços Buscapé percebeu essa aproximação ao lançar, no mês passado, um serviço que abre a empresas de todo o País a possibilidade de divulgar suas ofertas na internet: a Central de Negócios Buscapé. A empresa espera que, com a entrada de lojas reais, o site passe de 1,4 mil empresas cadastradas para 5 mil, até o final deste ano.

"Nós temos um serviço de pesquisa de preços e não só preços online. Consideramos que a internet é um facilitador do varejo em geral, mas a finalização da compra pode ocorrer em vários canais, como lojas físicas e virtuais, catálogo e telefone", observa Romero Rodrigues, presidente do Buscapé.