Título: IPCA e dado de produção industrial são destaques
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/09/2004, Finanças, p. B-2

Apesar de curta - por conta dos feriados do Dia do Trabalho hoje nos EUA e do Dia da Independência amanhã no Brasil, que devem restringir a liquidez nos mercados financeiros -, a semana traz indicadores importantes. Entre eles, destacam-se dados locais de atividade econômica e inflação. Nos EUA, a atenção estará voltada para a divulgação do Livro Bege (dia 7) e do índice de preços no atacado (PPI, na sigla em inglês), no dia 10. O petróleo também deverá ser acompanhado de perto pelos investidores.

De fato a semana só começa na quarta-feira. Mas nem por isso é menos relevante, principalmente para o segmento de juros, destaca o economista do Banco Schahin, Cristiano Oliveira. A produção industrial de julho, que será divulgada na quinta-feira, deverá mostrar a continuidade do movimento de aquecimento da atividade econômica. Na previsão do economista, o crescimento será de 10% na comparação com o mesmo mês de 2003 e de 1,2% ante junho.

Segundo Alex Agostini, economista da consultoria Global Invest, o dado de produção é importante para compor as expectativas dos investidores em relação à trajetória dos juros. O comportamento da atividade é uma das variáveis que têm sido consideradas pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central em suas decisões sobre a Selic, acrescentou. Agostini prevê aumento de 7,8% na produção em julho em relação ao mesmo período do ano passado.

Outro indicador que deve atrair a atenção é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - inflação oficial do regime de metas do BC - de agosto. As estimativas dos economistas, que variam entre 0,60% e 0,65%, apontam para queda do indicador. Na medição anterior, o IPCA ficou em 0,91%. O comportamento do núcleo também deverá apresentar desaceleração, segundo Oliveira.

O economista do Schahin acrescenta que, na semana que antecede o Copom (a próxima reunião ocorre nos dias 14 e 15), também ganha importância, além do dado de produção industrial, a pesquisa do BC com as expectativas do mercado para os índices de preços e o comportamento do petróleo. "Esses foram os pontos destacados na ata do Copom de agosto", diz. Ainda assim, Oliveira afirma que o BC deverá esperar mais uma rodada de indicadores, a fim de checar se há uma inflação de demanda, para decidir pela elevação da Selic. Para ele, o aumento no juro não ocorrerá neste mês e nem em outubro.

Agostini afirma que, se o nível de atividade ficar dentro das expectativas do mercado e a inflação confirmar a queda nos preços, a curva de juros futuros poderá até ceder, como ocorreu na sexta-feira. Segundo o consultor da Global, o recuo das taxas projetadas pelos contratos de DI foi influenciado pelo resultado do IPC-Fipe em agosto. Apesar da alta de 0,99%, o índice mostrou baixa em relação à terceira quadrissemana de agosto (1,03%), além de ficar abaixo das expectativas dos economistas, entre 1,1% e 1,2%. "A tendência é de queda, uma vez que a alta do IPC foi puxada pelo aumento sazonal dos alimentos e das tarifas públicas", diz. O contrato de janeiro apontou juro de 16,70% na sexta-feira, ante 16,76% da véspera.

Já o mercado de câmbio deverá manter o ritmo da última semana, podendo romper para baixo o patamar de R$ 2,90. "O dólar segue outra dinâmica, como o resultado das contas externas, a expectativa por novas emissões como a soberana (para esta semana), o risco em queda", ressalta Oliveira. Agostini reforça que os números são muito positivos e, assim, não há motivos para assumir posições compradas. Tanto é que o dólar recuou 0,41% na sexta-feira, a R$ 2,928. No acumulado da semana, a moeda cedeu 0,88%. O risco Brasil encerrou a semana em 511,4 pontos (queda de 2%).