Título: Programa Berimbau recebe R$ 2 milhões e gera 2,5 mil empregos
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/09/2004, Nacional, p. A-6

A artesã Joelma Silva tinha um sonho: comprar uma geladeira. O projeto parecia impossível de ser realizado com a venda de bolsas e tapetes de palha a R$ 5,00 para uns poucos turistas que passavam pelo município de Entre Rios, no litoral norte da Bahia, a 100 quilômetros de Salvador. Isso, há cerca de três anos. Hoje, as bolsas de Joelma já contribuem para o superávit da balança comercial brasileira. Os números são modestos, é verdade, mas a artesã comanda uma equipe de 64 mulheres que já exportaram para a Itália, França, Estados Unidos, Inglaterra e Chile, cerca de três mil peças de palha feitas na região.

"Já comprei duas geladeiras duplex", disse Joelma, exibindo sua lista de encomendas para o Brasil e exterior, o que inclui alguns endereços na Oscar Freire, rua na capital de São Paulo que reúne algumas das lojas mais sofisticadas da cidade. "Minha vida mudou."

Mudou, segundo ela, depois que o chamado Programa Berimbau, um projeto social sustentável da Costa do Sauípe, resultado de uma parceria entre a Costa do Sauípe, a Fundação Banco do Brasil e a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), entrou em sua vida. O programa, conforme o consultor Francisco Oliveira, responsável pelo processo, foi criado para melhorar as condições de vida das oito comunidades em torno do maior resort brasileiro.

"Essas pessoas enfrentam as mais diversas dificuldades para sobreviver, como alto índice de analfabetismo e baixa renda", disse Oliveira. A direção do resort percebeu que sem uma política de boa vizinhança, a população local, de 10 mil pessoas, poderia dificultar a vida dos administradores do hotel. Por isso, o primeiro passo foi organizar associações locais, com lideranças da região, e, a partir daí, levantar as potencialidades econômicas e produtivas das comunidades.

Por exemplo, o artesanato. Dessa constatação para a criação da Associação dos Artesãos de Porto de Sauípe foi um passo. O projeto hoje está a cargo de uma especialista italiana, Marcella Ferri, que foi chamada com a tarefa de levar um novo conceito estético às bolsas produzidas por Joelma e sua equipe. "O trabalho era muito bom, mas elas não tinham noção de metragem, por exemplo. O meio da bolsa para se costurar o botão era medido com os dedos. O resultado final deixava a desejar."

As bases do Programa Berimbau são o investimento em iniciativas sustentáveis que tenham sinergia com o turismo, a preservação do meio ambiente e o incentivo à produção local, por exemplo, de alimentos consumidos nos hotéis, de sabonetes e xampus e cremes com plantas da região e extratos naturais. "A principal proposta de trabalho é a integração das populações e a mobilização dos meios necessários para a implantação de projetos propulsores de Geração de Trabalho, Renda e Melhoria da Qualidade de Vida da região conhecida como Costa dos Coqueiros", disse Oliveira.

Ao todo, o programa contempla 41 ações e já recebeu investimentos da ordem de R$ 2 milhões. Parte disso, foi destinado à geração de 2,5 mil empregos diretos nos cinco hotéis e oito pousadas do resort e oportunidades de trabalho, melhoria na infra-estrutura social local, apoio ao desenvolvimento de atividades agrícolas, revitalização da pesca, artesanato, preservação do meio ambiente e cultura local.

As oito comunidades vizinhas tinham como única e principal fonte de renda a agricultura de subsistência e o artesanato. Dos 10 mil moradores da região, 45% são analfabetos, 75% recebem apenas um salário mínimo e 22% não possuem nenhuma fonte de renda. Atualmente, há artesãs recebendo cerca de R$ 1 mil por mês. "Depende de quantas peças elas fazem", disse Joelma. Em média a produção individual é de 45 peças por mês.

A administração do Sauípe está concluindo um censo na região, que conta com recursos da ONU, para aprimorar os programas e avaliar melhor os resultados. Os próximos projetos, em fase de elaboração, incluem a conclusão das obras da Usina de Biodegradação Acelerada, numa área de dez mil metros quadrados para reciclar o lixo e torná-lo um produto rentável. O lixo orgânico gerado pela Costa do Sauípe será transformado em adubo, e comercializado para pequenos agricultores da região e para o próprio resort, através de uma cooperativa de produtores rurais.

Em breve, o programa vai entrar para o roteiro turístico do lugar.

kicker: Iniciativa é uma parceria entre a Costa do Sauípe, a Fundação Banco do Brasil e a Previ