Título: Um setor que não pára de crescer
Autor: Marcos Lopes Padilha
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/09/2004, Insumos & Componentes, p. A-10

Desempenho acompanha retomada nas vendas de eletrodomésticos. O aquecimento observado nas vendas de componentes e insumos para eletrodomésticos no primeiro semestre deste ano - movimento que se intensificou a partir do final de 2003, acompanhando a retomada dos negócios com bens finais - projeta bons resultados no final do ano para o segmento.

No primeiro trimestre, o faturamento da indústria de componentes elétricos e eletrônicos cresceu 4%, em relação ao mesmo período de 2003, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). A previsão é de continuidade de crescimento até o final do ano, com projeção de 17% sobre 2003. Segundo o presidente da Abinee, Ruy de Salles Cunha, a expectativa para toda a indústria eletrônica é de alta de 14%.

De acordo com a Abinee, em 2004 o faturamento do setor está sendo puxado pelo crescimento das exportações e pelo incremento da demanda de bens de consumo eletrônico, cuja produção física cresceu 43% no 1º trimestre deste ano frente ao mesmo período de 2003, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tal comportamento confirma a expansão verificada nos últimos anos. O fatu-ramento da indústria de componentes elétricos e eletrônicos atingiu R$ 6,9 bilhões em 2003, 16,2% mais que no ano anterior e 30,6% superior ao resultado de 2001, revelando uma ascensão contínua nos últimos anos.

A balança comercial da indústria de componentes elétricos e eletrônicos é tradicionalmente deficitária. Mas, recentemente, o déficit tem crescido ainda mais por conta do aquecimento na produção de bens finais e do conseqüente incremento na demanda por componentes importados. Somente no primeiro trimestre de 2004, o déficit chegou a US$ 1,2 bilhão, 37% mais que no mesmo período do ano passado, devido, sobretudo, ao aumento das importações, que cresceram 27%, de acordo com a Abinee.

Em 2003, o déficit totalizou US$ 3,9 bilhões, 14,8% maior do que no ano anterior. Ainda assim, o resultado de 2003 é 13,3% inferior ao registrado em 2001. Mas o crescimento do déficit em 2003 contrasta com o acentuado declínio de 2002, quando o saldo desfavorável tinha caído 24,5% em relação a 2001. Acontece que o aumento das exportações de componentes, de apenas US$ 25 milhões, em 2003, não foi suficiente para compensar as importações, que tiveram incremento superior a US$ 500 milhões.

Vale acrescentar que as exportações de componentes elétricos e eletrônicos representam 37% de toda a pauta de produtos do complexo eletrônico, fatia que tem se mantido nos últimos anos. Todavia, a participação das importações saltou de 46%, em 2001, para 57%, em 2003. Ainda mais, a indústria de componentes, que já tinha sido responsável por mais da metade do déficit do complexo eletrônico, em 2001, aproximou-se da surpreendente marca de três quartos do saldo desfavorável de toda a indústria eletrônica em 2003.

Um possível efeito restritivo sobre o incremento da demanda de bens duráveis é a elevação nos preços das matérias-primas. Ao longo de 2003, os fabricantes de eletrodomésticos queixaram-se dos aumentos de preços dos principais insumos: aço e plásticos. De acordo com levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os preços do aço para indústria de linha branca subiram em média mais do que o dobro da variação de 7 pontos do IPA (Índice de Preços por Atacado), em 2003.

No entanto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), representante dos fornecedores desse insumo, em 2003 o preço do aço teria subido apenas 9% em janeiro e durante um período de 12 meses nada foi reajustado. Ademais, nos últimos dez anos, desde o Plano Real, o aço teria sido um dos produtos que apresentaram menor reajuste de preços na economia brasileira, menor que a energia elétrica, que os combustíveis e até mesmo que os automóveis, indicou o IBS.

Também os fabricantes de artefatos de plástico passaram a conviver, no início de 2004, com elevações nos custos de seu insumo principal, as resinas plásticas. Em fevereiro, o Sindicato das Indústrias de Resinas Sintéticas no Estado de São Paulo (Siresp) anunciou reajuste de 20%.

A alegação dos fabricantes de resinas seria o aumento no preço do petróleo, e a elevação da demanda mundial por plásticos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), de julho de 1994 a agosto de 2003 o preço da nafta, matéria-prima das resinas, subiu mais do que o dobro dos preços dos produtos petroquímicos industriais.