Título: Grupo quer revitalizar cadeia produtiva
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/09/2004, Agribusiness, p. B-10

Apesar dos baixos preços pagos pelo gado gaúcho, o setor tenta se reerguer. A estimativa é de que neste ano as vendas externas passem para 100 mil toneladas, alta de 40% em relação ao anterior. Além disso, um "pool" deve ampliar o número de frigoríficos habilitados a exportar.

O programa Juntos para Competir, da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) está investindo R$ 2 milhões para revitalizar cinco cadeias produtivas: bovina, suína, ovina, fruticultura e cana-de-açúcar. A proposta é criar um "pool" com cinco pequenos frigoríficos para exportar carne para os países árabes e Hong Kong. "Em termos de volume não é significativo, mas a ação é para alavancar as empresas", diz Fernando Adauto de Souza, presidente da comissão de Pecuária de Corte e Indústria da Farsul. Inicialmente as unidades devem exportar 200 toneladas por semana.

Para Souza, o começo da exportação para os países da lista geral poderá fazer também com que estas empresas consigam habilitação para a União Européia (UE). Além da criação do grupo, o programa pretende oferecer cursos para de capacitação gerencial às empresas. Outra ação que visa reestruturar a cadeia bovina é o bônus rastreabilidade dado ao produtor para estimular a certificação do rebanho. Do custo total da rastreabilidade (R$ 4 por cabeça), o pecuarista paga cerca de 30% e o restante é bancado por um fundo formado pela iniciativa privada e governo.

Souza afirma que posteriormente, a idéia é criar um programa de indicação geográfica para a carne bovina, nos moldes dos vinhos franceses. Ou seja, o produto indicaria a região em que o gado foi criado e as característica do rebanho daquela localidade.

O secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, Odacir Klein, afirma que o governo está preocupado em demonstrar a importância da diversificação de atividades como forma de revitalização do setor - para que os produtores não troquem simplesmente a pecuária pela agricultura. Além disso, segundo ele, outra ação do governo é organizar o combate ao abate clandestino e ao abigeato, com patrulhas conjuntas das secretarias da Agricultura, Fazenda, Saúde e Segurança.

Paulo Ene, veterinário da Emater, diz que a saída para a crise da pecuária é a uniformização fiscal, a reestruturação financeira dos frigoríficos e a qualificação dos empresários. "Temos unidades frigoríficas suficientes e ambiente favorável para a produção de gado a pasto", afirma Ene. Segundo ele, uma das alternativas é investir no marketing da South Brazilian Beef, uma vez que a carne gaúcha é de gado europeu, que proporciona maior maciez e melhor sabor.

Mesmo com a crise, a genética do rebanho gaúcho ainda é considerada de elite. Muitos produtores buscam no estado gado para cruzamento industrial com zebuínos ou até criação das raças européias. Na 27ª Exposição Internacional de Animais (Expointer), em Esteio (RS), a comercialização de animais alcançou R$ 4,706 milhões.

Pedro Victorino da Costa, assessor da Fazenda MC, de Espírito Santo do Pinhal (SP) esteve semana passada na Expointer, comprando sete animais para a propriedade. Segundo informa ele, a escolha pelos bovinos do Rio Grande do Sul deve-se à qualidade dos animais, que são os mais próximos aos padrões da raça, junto com a Argentina e o Uruguai. A Fazenda MC é a única propriedade no País que comercializa carne certificada pela associação, abatendo cerca de 1,1 mil animais por semana.

O diretor-técnico da Associação Brasileira de Angus, Fernando Veloso, estima que 60% do rebanho gaúcho tenha influência angus, seguida pelas raças hereford e brangus. Em todo o País, são cinco milhões de cabeças. A criação de gado de elite é considerada mais rentável do que a simples pecuária de corte. "Temos um banco de genética aqui para o cruzamento industrial e seguimos como pólo referencial na oferta de gado europeu", afirma. Segundo ele, enquanto um novilho de dois anos (de aproximadamente 540 quilos) é comercializado a R$ 800, um touro (550 quilos) é vendido a R$ 2,5 mil - fora de exposição e leilão. No entanto, Veloso afirma que uma atividade depende da outra, não havendo como o estado futuramente ser apenas pólo exportador de genética.