Título: Retomada pode não se manter, diz Ipea
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/09/2004, Nacional, p. A-4

Estudo afirma que sem aumentar a taxa de investimento será difícil sustentar nível de expansão. A retomada do crescimento da economia brasileira em 2004 não garante, por si só, um desempenho semelhante sustentado nos próximos anos. A conclusão é dos economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e consta do Boletim de Conjuntura de setembro, divulgado ontem. Sem um aumento da taxa de investimento, atualmente em torno de 19% e 20% do Produto interno Bruto (PIB), será difícil manter o nível de expansão no ritmo atual. Para 2005, a alta prevista para a economia é de 3,8%, inferior aos 4,6% estimados para 2004.

Conforme o coordenador do Grupo de Conjuntura do Ipea, Fábio Giambiagi, a queda nas projeções de um ano para o outro ocorreu basicamente em função da redução no ritmo de alta da indústria, que, conforme os últimos cálculos do Ipea, sairá de um aumento de 7,4% este ano para 4,4% para 2005.

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que reflete o comportamento dos investimentos, foi estimada em 7,6% para este ano e em 6,5% para o próximo ano. O recuo, de acordo com Giambiagi, está ligado ao desempenho da produção de bens de capital. Dificilmente, na avaliação dos economistas do Ipea, será possível repetir a alta de 25% na produção, registrada no país no primeiro semestre deste ano, daqui em diante.

O problema do baixo nível de investimento na economia brasileira está presente no Projeto de Lei Orçamentária para 2005. O superávit será obtido, apesar de um aumento das despesas, que sairá de 18,32% do PIB para 18,50% do PIB, com o aumento contínuo da carga tributária. As receitas primárias, conforme o Orçamento, crescerão em proporção ao Produto, saindo de 24,49% do PIB em 2004 para 24,73% do PIB em 2005. As despesas com previdência sairiam de 7,30% do PIB este ano para 7,44% do PIB para 2005.

Nos últimos cinco anos, o estoque de capital cresceu a uma taxa em torno de 2% ao ano. Para sustentar uma expansão econômica de 5% ao ano, o estoque de capital, conforme o último boletim do Ipea, precisaria crescer 5,6% ao ano com uma taxa de investimento correspondente a 25% do PIB.

Para o próximo ano, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi estimada em 5,8%, inferior aos 7,3% previstos para este ano. A Selic, a taxa básica de juros da economia, para 2005, na média, será de 16,1%, conforme os economistas do Ipea, mas no último trimestre do ano que vem a expectativa é de uma queda para 15,5%. Para o último trimestre deste ano, eles aumentaram a projeção da Selic de 15,50% para 16,50% ao ano. Atualmente a taxa está em 16,0% ao ano. O Ipea estimou que a Selic média de janeiro a dezembro de 2004 ficará em 16,20%.