Título: Qualificação do brasileiro supera crescimento do PIB
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/09/2004, Nacional, p. A-5
O indicador leva em conta a variante educacional na população. O aprimoramento educacional do brasileiro teve melhor desempenho nos últimos 30 anos do que o Produto Interno Bruto (PIB). A relação foi traçada pelo economista Roberto Cavalcanti de Albuquerque, diretor técnico do Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE), que desenvolveu um novo indicador: o Índice de Capital Humano (ICH).
O indicador, criado a partir do componente educação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apura a performance do capital humano por regiões e estados do Brasil entre 1970 e o ano 2000. "A relação é válida porque o capital humano é considerado um dos principais componentes da atividade econômica de um país", diz Albuquerque.
O ICH leva em conta a variante educacional na população de 15 anos ou mais, informação que é cruzada com o crescimento demográfico regional. "Quando traçamos o crescimento do PIB no período 1970-2000 e o confrontamos com o desempenho do ICH, observa-se que o último teve melhor performance do que o primeiro. Isto significa que o Brasil não vem aproveitando as melhorias educacionais da população."
De acordo com Albuquerque, o percentual das pessoas com quatro anos ou mais de estudo passou de 28,5% para 69,9%, enquanto que o número de pessoas com oito anos ou mais de escolaridade saltou de 8% para 35% no período.
Já o contingente de brasileiros com 11 anos ou mais anos de estudos passou de 3,8% para 19,8%. Quando separado por regiões, o estudo apura que o maior crescimento do ICH no período 1970-2000 foi obtido pelo Norte (7,1% ao ano), seguido pelo Centro-Oeste (6,9%), Nordeste (6%), Sudeste (4,9%) e Sul (4,8%). "Nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, a evolução do índice se deu, preponderantemente, pelo crescimento demográfico. Já Sul e Nordeste tiveram seus ICHs puxados pelo componente educacional", diz Albuquerque.
O diretor do INAE diz, ainda, que a relação PIB-ICH deve manter a trajetória observada hoje, com o brasileiro procurando mais qualificação para entrar no mercado de trabalho, que apresenta-se inchado e incapaz de absorver o contingente. "A reversão deste cenário só será possível com a adoção de políticas de ampliação de crédito e de aumento da massa salarial. Desta maneira, o poder de compra dos trabalhadores cresceria e, com ele, a recuperação da economia e a conseqüente expansão sustentável do PIB."
O ICH será apresentado hoje durante o Mini Fórum Nacional comemorativo aos 40 anos de Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).