Título: Lula prepara reunião com líderes mundiais na ONU
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/09/2004, Nacional, p. A-6
Enquanto o Fome Zero ainda patina no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega no próximo dia 20 em Nova York como principal figura da reunião de líderes mundiais contra a fome e a pobreza, que ocorrerá às vésperas da 59 Assembléia Geral das Nações Unidas. A base da reunião será um relatório sobre mecanismos de financiamento, elaborado em conjunto com a França, Chile e Espanha. Algumas propostas são de difícil implementação, como a taxação sobre transações financeiras e comércio de armas. A principal oposição vem justamente dos Estados Unidos, que ainda não confirmaram o nome de seu representante na reunião.
A assessora para assuntos sociais do Itamaraty, Maria Nazareth Farani Azevedo, disse ontem que nenhum dos mecanismos que serão sugeridos é consensual e de fácil negociação. "Mas o fato de um país ser contra não impede a discussão internacional", disse. Segundo ela, a idéia não é criar um fundo mundial para financiar ações contra a fome, e sim colocar novamente o assunto na pauta, que perdeu a prioridade nos últimos dois anos para questões como segurança e o combate ao terrorismo. Somente no âmbito da Organização das nações Unidas (ONU) existem cerca de 200 fundos ligados à área social. Mas falta dinheiro.
O relatório indica três linhas de mecanismos a serem adotadas: ações vinculantes, de coordenação política e voluntárias. No primeiro caso estão incluídas idéias polêmicas, como a criação de taxas sobre transações financeiras e sobre o comércio de armas pesadas. Segundo Maria Nazareth, estas ações permitiriam recursos estáveis, previsíveis e de longo prazo. Ela destaca que somente com uma taxa mínima sobre a movimentação financeira mundial, estimada em US$ 1 bilhão por dia, seria possível arrecadar em torno de US$ 17 bilhões a US$ 30 bilhões por ano.
Entre as ações de coordenação política, o documento irá sugerir a redução dos custos de remessas de dinheiro de imigrantes para as famílias que forma em países em desenvolvimento. Há um entendimento de que estes recursos são usados em gastos como alimentação e moradia e, por isso, constituem-se uma fonte alternativa de recurso nestas regiões. "Em alguns casos esta taxação chega a 25%", ressalta a assessora.
As medidas voluntárias incluem, por exemplo, doações via cartão de crédito. Segundo Maria Nazareth o relatório irá sugerir o lançamento de um produto específico ligado à implementação das Metas de Desenvolvimento do Milênio. A idéia é que o cartão seja baseado em iniciativas nacionais bem sucedidas, como os lançados pelas fundações Ethos e Abrinq. Outra sugestão é colocar a luta contra a fome a miséria como critério de seleção de carteiras dos chamados "investimentos socialmente responsáveis", os chamados "fundos éticos", que estão se tornando bem populares entre os investidores. O Itamaraty ressaltou, no entanto, que a listagem dos mecanismos não pretende ser exaustiva nem prescritiva.
kicker: Às vésperas da Assembléia Geral, serão buscados os mecanismos de financiamento