Título: Parlamentares desconfiam da iniciativa
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/09/2004, Política, p. A-7

A proposta de um pacto social envolvendo empresários, trabalhadores, banqueiros e governo não vem sendo vista com bons olhos pelo Congresso. Os parlamentares estão desconfiados quanto à amplitude da proposta e dos atores envolvidos. Também acreditam que este não é o melhor momento de se falar sobre o assunto.

"Pacto social é uma expressão desgastada. Além disso, a história mostra pactos em momentos de crise aguda. Não é este quadro que vivemos no país", defendeu o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP).

Chinaglia entende a cautela do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O comandante da economia brasileira considerou inoportuna a proposta de um pacto social neste momento, temendo um aumento de preços e a retomada dos índices inflacionários. Precisaria convencer o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), da CUT e o Luiz Inácio Lula da Silva.

Na opinião do líder do PT, é salutar que os diversos setores sentem à mesa para debater estratégias de desenvolvimento para o país. "Mas é preciso tomar cuidado para não passar a imagem de que não estamos fazendo o suficiente para garantir um crescimento sustentado", disse Chinaglia.

Na cabeça do líder do PFL na Câmara dos Deputados, José Carlos Aleluia (BA), não há como apagar a sensação de que o governo Lula é um desastre. Para o pefelista baiano, a proposta de um pacto social às vésperas da eleição parece um pedido de paz à oposição. "Eles querem trégua? Que parem de errar. Fazem uma política econômica eleitoreira e querem nossa ajuda para isso?".

O deputado baiano afirma que seu partido concorda em discutir alternativas de crescimento e geração de emprego. Mas acusa o governo de politizar o Banco Central, segurando a elevação dos juros para beneficiar os candidatos governistas nas eleições de outubro.

O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP) devolveu os argumentos de Aleluia no mesmo tom. O petista atribui o pessimismo aos setores que torcem para que o País não dê certo. "Qualquer acordo social que garanta o crescimento e a geração de empregos é altamente positivo".

Professor Luizinho admite que não adianta lançar propostas que diminuam a receita do governo. Mas lembra que todos os setores da sociedade devem contribuir para o crescimento. Na prática, diz ele, isso viria com a diminuição do juro, a disposição do setor empresarial em investir e a compreensão dos trabalhadores em entender que reajustes acima da inflação nem sempre são factíveis.