Título: Greenspan diz ao Congresso que a economia ganha força
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Fonte: Gazeta Mercantil, 09/09/2004, Internacional, p. A-9
Vários economistas viram no comentário a confirmação de alta de juros. A economia norte-americana deixou para trás a recente fraqueza e parece estar ganhando força, afirmou ontem o chairman do Federal Reserve, Alan Greenspan. Vários economistas viram nesses comentários a confirmação de uma alta de juros, em setembro.
"Os últimos dados sugerem que, no geral, a expansão ganhou alguma força", disse ele em depoimento no Comitê Orçamentário da Câmara de Representantes. "Ainda temos alguns problemas... mas acredito que, no geral, a economia está indo razoavelmente bem".
Analistas disseram que Greenspan mostrou-se mais otimista sobre o crescimento, do que após a última reunião do Fed, quando os juros foram elevados em 0,25 ponto, para 1,5%.
Economistas consultados pela Reuters na sexta-feira foram unânimes em prever novo aumento de juros de 0,25 ponto na reunião de 21 de setembro. Muitos acham que a taxa encerrará o ano em 2%, o que significa manutenção em uma das três reuniões restantes este ano.
"Os comentários do chairman claramente sinalizam que os juros vão subir este mês, mas nós continuamos prevendo que uma nova alta em novembro não está certa ainda", disse Ian Shepherdson, do High Frequency Economics.
Essa expectativa de alta este mês foi reforçada pela aparente falta de preocupação de Greenspan sobre as pressões inflacionárias, ao dizer que os altos preços do petróleo não parecem ter um efeito duradouro sobre a inflação. "Apesar da alta dos preços do petróleo, a inflação e as expectativas de inflação diminuíram nos últimos meses".
Recuperação do gasto
O ritmo de crescimento dos EUA desacelerou fortemente no segundo trimestre, para 2,8% ante 4,5% no trimestre anterior, segundo taxas anualizadas, à medida que os altos preços de energia abateram o gasto. Os investidores querem saber se essa debilidade é duradoura. Greenspan acrescentou que os gastos dos consumidores e o início de construção de moradias recuperaram-se em julho e que o investimento empresarial mantém seu ritmo sólido, mas ressaltou que as vendas no varejo no início de agosto mostram sinais mistos.
Déficit preocupa no longo prazo
Segundo ele, é difícil avaliar o curso futuro do petróleo, assim como seu impacto sobre a economia, embora as condições abram espaço para mais volatividade. "O equilíbrio futuro entre oferta e demanda continuará precário", afirmou Greenspan, sobre os custos de energia.
Sobre o déficit fiscal, Greenspan disse que seu valor recorde vai diminuir no próximo ano, mas que a perspectiva de longo prazo é preocupante. "Com a economia continuando a melhorar, o déficit deve declinar no ano frente. No entanto, as perspectivas para o déficit federal no longo prazo parecem problemáticas". Ele acrescentou que a atual política fiscal deve tentar manter o nível de dívida o mais baixo possível.
"Eu prefiro ter tanto impostos como gastos mais baixos... mas a necessidade é um orçamento equilibrado. Outros podem escolher impostos e gastos mais altos, mas eu acho que isso tornaria o nível de atividade econômica menor".
Livro Bege relata desaceleração
A economia dos EUA conservou certa efervescência nos finais de julho e agosto, mas o ritmo de crescimento desacelerou em alguns distritos em meio ao fraco gasto de consumo e à debilidade no mercado de habitação. "Os relatórios vindos dos bancos do Fed indicaram que a atividade econômica continuou a se expandir nos finais de julho e agosto, apesar de diversos distritos terem indicado desaceleração, desde seus últimos relatórios", informou o Federal Reserve no seu mais recente Livro Bege, lançado ontem.
Dos 12 distritos do Fed, os de Nova York e Chicago relataram que a economia se expandia em um ritmo mais lento, enquanto que o distrito de Richmond informou que a economia expandiu-se "mais modestamente" nos finais de julho e agosto. O Livro Bege é um sumário da atividade econômica preparado para ser usado na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto em 21 de setembro.
FMI vê recuperação robusta
Já o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Rodrigo Rato, deu entrevista a uma emissora de TV na África do Sul, e disse que "o robusto crescimento econômico americano deve continuar em 2005, mas as autoridades do país precisam reduzir o déficit fiscal. Rato acrescentou, em entrevista à Reuters, que a economia da União Européia (UE) está abaixo de seu potencial. "A expansão dos Estados Unidos é certamente robusta e eu acho que ela seguirá assim neste ano e no próximo. Mas os riscos macroeconômicos precisam ser administrados", disse ele.
Sobre a UE, Rato afirmou que "este é um momento muito importante para a região aproveitar a recuperação e ter uma agenda orçamentária clara para obter sustentabilidade e ajudar na estabilidade macroeconômica".