Título: Bahia, paraíso de complexos turístico-imobiliários
Autor: Camila Teich
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/09/2004, Mercado imobiliário, p. A-15

Empreendimentos que aliam estrutura hoteleira, de lazer e imóveis consolidam-se no litoral e planejam outras empreitadas para a região. Falésias, coqueiros, águas cristalinas e sol durante a maior parte do ano. Com mais de mil quilômetros de extensão, o litoral da Bahia, o maior do Brasil, não é apenas o paraíso de belezas naturais. A região desenvolve cada vez mais seu potencial para atrair empreendimentos turístico-imobiliários, conceito já implantado em outras áreas, como Caribe, México e Portugal, e que alia os setores hoteleiros, de lazer e imobiliários em um único espaço. Empreitadas como o Complexo Terravista, Txai Resort&Residences e Costa do Sauípe, registram resultados positivos nos segmento hoteleiro e começam a contabilizar bons desempenhos também na área imobiliária.

Lançado no primeiro semestre deste ano, o condomínio residencial Casas de Sauípe Grande Laguna - desenvolvido dentro da Costa do Sauípe - soma 90% das 118 unidades comercializadas. "Prevíamos ficar um ano vendendo o produto, mas a maioria das casas foi comercializada em cinco meses", afirma o diretor de contratos da Odebrecht Empreendimentos Imobiliários, Ruy Rego. O executivo acrescenta que o projeto está em sintonia com uma tendência internacional, a qual combina empreendimentos imobiliários de lazer, ancorados por um destino turístico. "Ao mesmo tempo, busca-mos o que existia de moderno em outras localidades e criamos um desenho que atendesse às expectativas dos consumidores."

Com investimentos de R$ 65 milhões, o projeto abrigará unidades com terrenos médios de 1,5 mil m² e com valores a partir de R$ 490 mil. O público, diz o executivo, é formado por baianos (50%), estrangeiros (40%) e de outros estados, principalmente paulistas. "Como é um destino internacional, o percentual de visitantes de fora da Bahia é alto, por isso, optamos por focar o produto para o público baiano, para criar uma comunidade e identidades locais", afirma.

Segundo o diretor, o condomínio vai ao encontro de uma demanda crescente em destinos turísticos. " São pessoas que se identificaram com a região e a adotaram como lazer temporário, criando uma identidade com o local. Isso as tornam potenciais compradoras de um imóvel", explica Rego, ao acrescentar que o índice de retorno à Costa de Sauípe é de 90%.

O executivo afirma ainda que a estrutura permite o desenvolvimento de um efeito multiplicador: os moradores trazem outras pessoas que mesmo não estando hospedadas nos hotéis de Sauípe, acabam consumindo os arredores do empreendimento.

Encravado em um campo de golfe, no litoral sul da Bahia, o condomínio Villavista Golf possibilita que os moradores recebam benefícios do Club Med, também instalado no Complexo Terravista. A primeira fase do projeto envolveu 89 lotes, dos quais 50% foram comercializados. Os terrenos, a exemplo do Casas de Sauípe, têm a partir de 1,7 mil m².

Idealizado há uma década pelo empresário Michael Rumpf-Gail, o Complexo Terravista desenvolveu como âncora um campo de golfe, aberto em maio e que consumiu investimentos de US$ 4 milhões. Toda a primeira fase do complexo, que inclui três hotéis (dois ainda em projetos), campo de golfe, condomínio residencial, uma pista de pouso e área comercial, receberá aportes de US$ 90 milhões. "Há planos para a implementação, daqui a cerca de dez anos, de um empreendimento com perfil similar em uma área igual, também em Trancoso", diz o diretor da Terravista Empreendimentos, Fabio Mazza.

O executivo informa que a região de Trancoso discute um plano diretor que prevê a utilização e o destino das áreas de maneira controlada e focando o meio ambiente. Desta forma, diz o executivo, a localidade não se transformará em pólo turístico de massa, o que acarretaria em um crescimento desordenado.

Trancoso, Itacaré e Praia do Forte, aliás, despontam como potenciais regiões para atração de novos projetos turístico-imobiliários. Na Praia do Forte, a 78 quilômetros de Salvador, o grupo espanhol Iberostar anunciou no início do ano a construção de um resort com quatro hotéis de alto padrão, além de 46 lotes de 5 mil m² para empreendimentos imobiliários. Os investimentos somam mais de US$ 200 milhões.

A empresa paulista RFM Construtora elegeu o sul do litoral, onde estão Trancoso e Itacaré, para suas empreitadas em solo baiano. Além de ser administradora do loteamento Altos de Trancoso, a companhia foi responsável pelo construção do Club Med de Trancoso e do Txai Resort & Residences, em Itacaré. Neste último, a empresa destinou recursos de US$ 8 milhões para a criação de um resort de alto padrão aliado a um empreendimento residencial com 22 casas, também de luxo, que foram comercializadas em seis meses. No caso do Altos de Trancoso, as vendas chegam a 70% dos 120 lotes, cujo metro quadrado soma R$ 150, mesmo valor registrado no Txai, em Itacaré.

O sucesso do Txai Resort & Residences estimulou a RFM a investir em um novo resort nos mesmos moldes que o anterior, porém maior, com 40 quartos e 40 bangalôs. O projeto, que será construído também no sul da Bahia, receberá aportes de US$ 8 milhões, segundo o diretor da RFM, Marcio Botana Moraes. Atualmente, o mercado baiano representa 30% do market share da RFM."A construção e a arquitetura são mais baratas que em São Paulo, e menos sofisticadas porque o público que investe em um imóvel quer se sentir na Bahia", diz Moraes, ao complementar que na capital paulista o valor para construção é de R$ 1,8 mil o metro quadrado e no litoral baiano chega a R$ 1,2 mil por metro quadrado.

Recursos em infra-estrutura

Para os executivos, o bom desempenho da Bahia está atrelado, além das belezas naturais, aos investimentos realizados para melhoria da infra-estrutura local. "É uma combinação dos atrativos naturais com ações contínuas do governo (realizadas durante 20 anos) para valorizar o potencial turístico da região; sem a infra-estrutura básica a iniciativa privada não tem como atuar", afirma Ruy Rego, da Odebrecht, ao acrescentar que nesse setor há um efeito cascata. "Um empreendimento atrai o outro, criando uma sinergia. A Praia do Forte, por exemplo, não é um competidor de Sauípe, e sim complementar; a concorrência existe, mas o que importa é a criação de uma massa crítica", finaliza o Rego.