Título: Saída de recursos pela CC-5 fica em US$ 2,1 bi em agosto
Autor: Edna Simão e Altamiro Silva Júnior
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/09/2004, Finançass & Mercados, p. B-1

A saída de recursos do Brasil por meio de contas CC-5, usada por não-residentes, totalizou US$ 2,110 bilhões apenas no mês de agosto. Esta foi a maior retirada de recursos desde outubro de 1998 (US$ 2,210 bilhões). Em todo o ano de 2003, a saída de dólares somou US$ 1,661 bilhão.

O Banco Central (BC) acredita que, apesar do número ser mais alto do que o verificado nos últimos meses, não representa uma fuga de capitais. Em agosto de 2003, US$ 91 milhões deixaram o Brasil por meio da CC-5.

A assessoria de imprensa do BC explicou que, em outubro de 1998, a saída de dólares estava relacionada a muitas operações e de várias empresárias, ao contrário do que foi verificado no mês passado. Ao divulgar os dados preliminares de agosto, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, havia dito que a saída de dólares do país foi um movimento pontual e de poucas companhias.

Este movimento mais forte de saída de dólares do País em agosto pode ter várias explicações, conforme analistas de mercado. Uma delas é a possibilidade de antecipação de pagamento de dívidas pelas empresas para aproveitar a valorização do real frente ao dólar. Outra é a falta de ativos atrativos em dólar, o que faz os investidores buscarem melhores alternativas no mercado externo. O cenário só não é preocupante devido ao elevado volume de exportações do País.

Normalmente, os investidores retiram recursos do país quando há crise de confiança como ocorreu no Brasil em 2002, por causa das eleições presidenciais, e em 1998, por causa da crise russa e asiática.

Para Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Banco Pátria de Negócios, a saída de recursos pela CC-5 em agosto é alarmante. Segundo ele, os atuais fundamentos da economia não justificam uma retirada de dinheiro tão grande. Lopes destaca, principalmente, a balança comercial. Em agosto, o superávit ficou em US$ 3,433 bilhões, um recorde para o mês; no acumulado do ano, está em US$ 21,951 bilhões. As previsões do mercado são de que a balança feche o ano com saldo positivo US$ 30,58 bilhões. Na avaliação de Lopes, os números da CC-5 podem ser um indicativo de que ou a atual cotação do real é artifical ou que há, de fato, uma fuga de recursos para o exterior.

Já o economista-chefe da consul toria Global Station, Marcelo de Ávila, não acredita que esteja ocorrendo uma fuga de capitais do Brasil. Segundo ele, o que pode ter ocorrido foi pagamento antecipado de dívida de filial brasileira para matriz com o objetivo de aproveitar a valorização do real frente ao dólar - em agosto, o dólar caiu 3,07%. "Não é um movimento generalizado. Não acredito que isto seja uma tendência", afirmou.

O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda, também vê como uma das possíveis explicações a queda do dólar. "As empresas podem ter se aproveitado de um real mais forte em agosto para mandar dinheiro para fora", destaca. "Mas não é possível saber se isso de fato aconteceu, pois não temos acesso aos dados do BC", diz. Para Lacerda, em um contexto de liberdade de capitais, os números da CC-5 de agosto são normais e não chegam a comprometer, sobretudo por causa do superávit na balança comercial.

Ajuda das exportações

Segundo o BC, no acumulado de janeiro a agosto US$ 3,649 bilhões deixaram o Brasil por meio das contas CC-5. No mesmo período do ano passado, a saída foi de US$ 1,391 bilhão. Devido à saída de US$ 2,110 bilhões em agosto, o movimento de câmbio no país ficou negativo em US$ 579 milhões. Em agosto de 2003, a sobra de dólares no mercado era de US$ 1,380 bilhão. O que tem garantido o saldo positivo de dólares no mercado brasileiro tem sido as exportações. Este recurso foi suficiente para compensar parte da falta de dólares no mercado, de US$ 563 milhões, e também a saída de recursos do país de US$ 2,110 bilhões.