Título: Alta no mercado não impede queda no plantio.
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/09/2004, Agribusiness, p. B-12

A pequena reação nos preços do milho, após os leilões de opção do governo, não deve afetar a intenção de plantio. Consultores estimam que a área cultivada com o produto vai se manter estável ou se reduzir na safra de verão. Aliado a isso, a estiagem no Sul do Brasil, que já atrasou o plantio, pode afetar negativamente o cultivo do grão.

Segundo a consultoria Céleres, a área plantada com milho vai cair 1,3% em todo o País, chegando a 9,3 milhões de hectares. A maior queda será no Sul (2,5%), principalmente no Paraná (4%), onde o produtor deve optar pela soja. No Sudeste a redução prevista é de 2,5% e no Centro-Oeste, 2,2%. De acordo com a Safras & Mercado, no Centro-Oeste - onde os preços do milho estiveram mais deprimidos - a redução na área plantada deverá ficar entre 2% e 5%. No Sul, inicialmente, se mantém. Porém, Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, diz que a estiagem no Sul fez com que o plantio se atrasasse. Segundo ele, para esta época do ano, pelo menos 10% deveria ter sido cultivado.

"Estamos preocupados com a falta de umidade, mas há perspectiva de chuvas para os próximos dias", diz Jorge Rodrigues, presidente da Comissão de Grão da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). Segundo ele, apesar de o cultivo iniciar em agosto, o forte do plantio ocorre neste mês. No entanto, ele diz que a maior preocupação é quanto ao nível de água das barragens, que está baixo.

Em Goiás, o preço praticado está cotado entre R$ 13,50 e R$ 14 a saca (60 quilos) para um custo de produção estimado entre R$ 12 e R$ 13. "Com isso, provavelmente haverá queda de área na safra de verão", afirma Adriano Vendeth de Carvalho, analista da SoloBrazil. Para ele, apenas os produtores mais tecnificados e os que necessitam de rotação é que devem manter a mesma área. Pedro Arantes, assessor técnico da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), diz que com certeza haverá redução de área cultivada. De acordo com ele, os preços praticados atualmente estão praticamente empatando com o custo de produção, o que desestimula o plantio.

No mês passado, para reverter o quadro de desestímulo ao plantio do grão, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento lançou leilões para 800 mil toneladas do grão, com comercialização de 91,5% dos contratos, que vencem em outubro e novembro. Uma semana antes do primeiro leilão, o grão estava cotado a R$ 16,50 a saca no Paraná e R$ 13,50 a saca em Mato Grosso - onde chegou a bater próximo ao mínimo de garantia. Uma semana após o último leilão, o preço era de R$ 17,50 e R$ 14,20 a saca, respectivamente. Apesar desta reação, Molinari diz que o quadro não reverteu a intenção do plantio. "A decisão já havia sido tomada. A única coisa que pode interferir é o clima", afirma. Para Leonardo Sologuren, analista da Céleres, a recuperação nos preços com os leilões do governo foi pequena e na relação de troca, a soja ainda está atualmente mais favorável, desestimulando o plantio de milho. Hoje, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) oferta 2.439 contratos que sobraram dos leilões passados.

Para Daniel Dias, analista da FNP Consultoria, com as exportações superiores ao ano passado, no exercício das opções o produtor vai ver o benefício dos leilões, ou seja, o preço de mercado estará superior ao ofertado pelo governo que foi de R$ 18,10 a saca no Paraná e R$ 12,70 a saca em Mato Grosso para entrega em outubro.

Estimativas extra-oficiais apontam para vendas de 4,1 milhões de toneladas até o final de agosto - para uma meta de 4,5 milhões em todo o ano. No mesmo período do ano passado, o Brasil comercializou com o exterior 1,7 milhão de toneladas, ou seja, houve um acréscimo de 140%.

As exportações estão sustentando o mercado, que foi auxiliado também pelos leilões de opções do governo, realizado no final do mês passado. Dias acredita que o mercado continuará demandado para o grão, pois os estoque internacionais estão em queda. Por isso, na avaliação dele, o produtor rural deveria apostar no milho.