Título: Sobe o tom da disputa verbal entre Marta Suplicy e Serra
Autor: Wallace Nunes
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/09/2004, Política, p. A-8

A disputa entre os candidatos que querem comandar a cidade de São Paulo nos próximos quatro anos tomou outros rumos. A campanha dos candidatos iniciou marcada pelas propostas e promessas eleitorais que visava o benefício da população da cidade, dois meses depois o tema foi deixado de lado com os postulantes acusando-se uns aos outros de fazer da prefeitura apenas trampolim para um cargo maior, como a cadeira do governo do estado, ou até mesmo a Presidência da República.

Há dois dias, entretanto a troca de farpas e insultos entre a prefeita, Marta Suplicy (PT), que concorre à reeleição, e o candidato do PSDB, José Serra deu ares de polarização e de que o eleitor pode esperar para o segundo turno.

Referindo-se de forma indireta ao candidato tucano, Marta Suplicy havia disse, na quarta-feira, que a vitória de seu principal adversário poderá acarretar uma crise política no País. "As forças organizadas da sociedade paulista deverão escolher de maneira clara o caminho que esperam que o País percorra nos próximos dois anos: a união e o aprofundamento da atual política econômica de crescimento ou o estado de crise política se alastrando durante dois anos", disse Marta.

A prefeita petista foi além e argumentou também que a eleição para a prefeitura paulistana inaugura a sucessão presidencial de 2006. "O que está em jogo nas eleições municipais em São Paulo vai muito além da escolha do titular do cargo. O que deve ficar claro é que o significado e o objetivo da candidatura de oposição é utilizar a Prefeitura de São Paulo como instrumento de oposição ao governo federal e a abertura antecipada da própria sucessão presidencial", afirmou.

Ao ouvir as declarações da prefeita, José Serra rebateu as declarações: "Ela tentou fazer chantagem e disse bobagem. Chantagem porque a população de São Paulo não vai se deixar levar no voto por ameaças dessa natureza. Tenho certeza de que se ela pensasse duas vezes ela não teria dito isso."

Ataque tucano

No mesmo dia, a coordenação da campanha de Serra divulgou uma nota na qual afirma que Marta está apelando "para a ameaça" e que "o PT tem dado demonstrações de intolerância à divergência à critica e ao pluralismo".

O duelo verbal com o candidato tucano continuou ontem e mais uma vez a prefeita saiu na dianteira: "José Serra é machista, quer ser o dono da verdade e o PSDB tenta escamotear a discussão".

Ao vistoriar as obras de um dos corredores de ônibus mais importantes da região Sul da cidade, a prefeita petista explicou que ele chamou Serra de machista. "Já começaram a me chamar de dona Marta, que é quando eles querem usar uma forma pejorativa contra a mulher e desqualificar a mulher".

Em seguida, Marta direcionou seu ataque ao que chamou de estilo de Serra. "É sempre o mesmo estilo do Serra, de se pôr em cima da carne seca, como dono da verdade e com uma postura extremamente machista."

As respostas de Serra vieram por meio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmim (PSDB), que classificou de equivocada a declaração feita ontem pela prefeita. Ele, no entanto, limitou-se a dizer que "lamenta atitude da prefeita que deixou o nível da campanha cair".

Walter Feldman, um dos coordenadores de campanha de Serra, afirmou que a prefeita está perdendo o bom senso ao fazer essas declarações. "A cada nova pesquisa divulgada ela (Marta) entra em desespero. Mas ainda é cedo", disse