Título: Lamy vem ao Brasil para negociar acordo comercial
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/09/2004, Internacional, p. A-9
Reunião poderá destravar a discussão entre a UE e o Mercosul. O Comissário de Comércio da União Européia, Pascal Lamy, se encontrará neste domingo, em Brasília, com o chanceler Celso Amorim e com os ministros da Agricultura, Roberto Rodrigues, e do Desenvolvimento, Indústria e Comér-cio Exterior, Luiz Fernando Furlan. O encontro foi pedido por Lamy e é uma tentativa de destravar a negociação do acordo comercial entre a UE e o Mercosul. Pelo cronograma atual, o acordo seria finalizado até o fim de outubro próximo. Mas os dois lados têm dito que essa é uma data tentativa e não final.
Na última rodada de negociação em agosto, que foi suspensa, os negociadores afirmaram ser necessário um movimento político, dos ministros do Mercosul e dos comissários da UE, para a discussão voltar a andar. O bloco sul-americano reclama da oferta agrícola européia e de a oferta completa, envolvendo todos os setores, não ser mostrada. Os europeus dizem querer mais do Mercosul em áreas como serviços e compras governamentais.
Segundo Ricardo Neiva Tavares, porta-voz de Amorim, não deve haver troca de ofertas na reunião. "É um encontro para se fazer uma avaliação do estado atual das negociações e ver o que é possível fazer daqui para frente", afirmou. Por isso, o Itamaraty diz ser uma reunião informal. Lamy pediu o encontro com Amorim, que chamou os outros dois ministros. Nele, poderá se fixar a data de uma nova rodada de negociação, a princípio prevista para a semana de 20 de setembro, mas não confirmada, ao menos até o final da tarde de ontem.
O chanceler uruguaio, Didier Opertti, afirmou estar esperançoso de que haja vontade política para fechar o acordo até 31 de outubro. "Achamos que a União Européia deveria melhorar sua oferta, porque nos oferece cotas e prazos e nos pedem setores completos, a assim continua a haver discordância", disse à agência de notícias EFE.
Opertti não comentou a polêmica dos últimos dias sobre queixas dos governos argentino e uruguaio sobre o brasileiro, que estaria retardando a negociação. O Brasil, como presidente pró-tempore do Mercosul, lidera a discussão pelo bloco. "Ontem (quarta-feira) tive um contato telefônico com Amorim e expus nossa opinião. Sei que a Argentina fez o mesmo e a opinião conjunta será transmitida a Lamy."
Muitos duvidam ser possível um acordo até outubro, pois a fase atual é crítica, de discussão de detalhes das ofertas. Parte do problema envolve cotas para venda de carnes com tarifas reduzidas. Em junho, num encontro de representantes dos blocos, inclusive Lamy, em São Paulo, a chanceler paraguaia, Leila Rachid, disse aos europeus que a cota de 50 mil toneladas oferecida na época "não dá nem para um churrasco na minha casa num fim de semana". O Mercosul vende mais de 200 mil toneladas à UE e chega a pagar tarifa superior a 100%. Os europeus depois ofereceram 60 mil toneladas. Mas parcelariam cotas para bens agrícolas sensíveis em 10 anos, motivo da suspensão da negociação de julho. Então, ofereceram mais cotas para carnes, desde que o volume exportado não subisse, e não mostraram toda sua oferta, incluindo outros setores, levando à suspensão da negociação de agosto. Na próxima semana em Bruxelas, haverá uma reunião de técnicos para discutir temas como defesa comercial e regras de origem.