Título: UE e Mercosul pretendem concluir acordo em outubro
Autor: Riomar Trindade
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/09/2004, Internacional, p. A9

Em reunião ontem, os dois blocos destravaram a pauta de negociações. O Mercosul e a União Européia conseguiram destravar a pauta de negociação entre os dois blocos econômicos em reunião realizada ontem, em Brasília, e decidiram trabalhar em ritmo de esforço concentrado para concluir o acordo de livre comércio entre os dois blocos até o fim de outubro. Não apenas o calendário para o encerramento das negociações foi mantido, bem como foi acordada a data do próximo dia 20 para que tanto o Mercosul como a União Européia apresentem suas ofertas completas.

"A reunião de hoje (ontem) foi produtiva", resumiu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao final de duas horas de reunião informal com o Comissário de Comércio da União Européia, Pascal Lamy, da qual também participaram os ministros da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.

Os dois blocos negociam maior abertura de alguns segmentos de mercado, mas a última reunião, em agosto, foi suspensa por falta de avanços concretos de parte a parte.

A União Européia quer mais espaço para investir no mercado dos países do Cone Sul em pé de igualdade com operadores locais, nos setores de serviços de telecomunicações, transporte marítimo e bancos, além de mais participação de empresas européias em licitações de compras públicas. O Mercosul, por sua vez, reivindica mais acesso ao mercado europeu para os produtos em que é mais competitivo, como carne, álcool combustível, frango e banana. O interesse do bloco sul-americano é aumentar as cotas de exportação, com redução tarifária.

A partir desta segunda-feira, em Bruxelas, em reunião técnica que já estava agendada, serão examinados alguns pontos que, na visão do chanceler Amorim, poderão ser essenciais para a conclusão do processo de negociação.

"A reunião serviu, em primeiro lugar, para que nós confirmássemos nosso compromisso em fazer todo o possível para encerrar as negociações no prazo que havíamos estipulado. Não só reafirmamos esse compromisso, como achamos que isso ainda é possível", disse Amorim, em declaração à imprensa.

"Há, naturalmente, dificuldades, que nós não ignoramos ¿ elas são freqüentemente expressas na imprensa, razão pela qual não vou explicitá-las ¿, mas ao termos essa troca de idéias sobre os vários pontos em que nossos interesses não estão totalmente encaixados, chegamos certamente à conclusão de que ainda vale o esforço e nós faremos esse esforço. Por essa razão, decidimos manter o calendário que havíamos inicialmente acordado e até, de certa maneira, intensificar, porque há uma reunião marcada para hoje em Bruxelas", afirmou o chanceler.

Celso Amorim acredita que essa reunião técnica marcada para Bruxelas poderá ser utilizada não propriamente para negociações, mas para esclarecimento de pontos ainda nebulosos em seu detalhamento final e que, esclarecidos, podem apressar o fim das negociações.

"Além disso, concordamos que no dia 20 apresentaremos ofertas completas ou completadas, se preferirem, de parte a parte, e que depois teremos de naturalmente fazer uma avaliação, dos dois lados ¿ no nosso caso, evidentemente isso inclui o Mercosul", disse Amorim. Ele previu para o final de outubro a negociação final, em nível ministerial, com a União Européia.

O chanceler brasileiro dará ciência aos parceiros do Mercosul sobre as conversações informais de ontem com o comissário europeu de Comércio Pascal Lamy. Depois de rasgados elogios a Lamy ¿ "um interlocutor da maior importância, pelo qual temos respeito intelectual, admiração e afeto, o que não é fácil em negociação comercial" ¿, Amorim disse que a reunião foi franca e importante para a avaliação do conjunto das negociações. "Não foi uma reunião tecnicamente detalhada, mas foi positiva", afirmou.

Pascal Lamy disse que as negociações UE/Mercosul são prioridade no bloco europeu e considerou que a reunião de ontem significou um avanço em relação ao acordo. "Ainda há muito trabalho a fazer, mas acredito que avançamos bastante", avaliou. A intenção, disse, foi definir uma agenda para tentar cumprir o prazo acertado anteriormente.