Título: Copom concentra atenções na semana
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Projeções se dividem entre manutenção da Selic em 16% e alta de 0,25 ponto percentual. Nesta semana, as atenções do mercado financeiro estarão voltadas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que indicará na quarta-feira (dia 15) a taxa básica de juros válida para o próximo período. Desta vez, as apostas dos analistas consultados pela Gazeta Mercantil estão bem divididas entre manutenção dos 16% - o juro está nesse patamar desde a reunião de abril - e alta de 0,25 ponto percentual. Para o sócio da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa, a taxa sobe 0,5 ponto. A elevação da Selic começou a ser admitida mais fortemente desde que o BC reforçou, na última ata, o discurso "duro" adotado na reunião de julho a fim de forçar uma convergência das expectativas de inflação ao centro da meta deste e do ano que vem.

"Talvez essa seja a reunião mais difícil", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. Na sua avaliação, para que haja coerência com o conteúdo da última ata - que mostrou preocupação com a deterioração das expectativas de inflação e o ritmo forte do crescimento econômico -, o BC terá de subir a Selic. Rosa espera alta de 0,25 ponto.

O economista afirma ainda que os dados de produção industrial divulgados na última quinta-feira confirmaram o crescimento robusto da economia, em um ritmo acima de seu potencial. "E isso começa a dar margem a pressões de custos e alta de preços", diz. Rosa ressalta que a inflação - apesar de preocupar - está controlada, conforme mostrou o resultado do IPCA (índice oficial) de agosto, conhecido na sexta-feira. O indicador avançou 0,69%: acima das projeções do mercado, mas abaixo do número de julho (0,92%). "Isso mostra não há motivos para aumentos maiores, de 0,5 a 1 ponto percentual. Mas os núcleos continuam em patamar elevado, o que sinaliza que se o BC não agir a meta de inflação de 2005 (4,5%) não será atingida", diz. Adauto Lima, economista-chefe do WestLB, defende uma elevação agora, já que o cenário atual inflacionário não é compatível com a meta de 2005. "O ajuste agora evitaria movimentos mais drásticos em 2005."

O gerente de tesouraria do Banif Investment Bank, Alberto Oliveira, acredita que o BC vá elevar o juro em 0,25 ponto percentual, mas defende a manutenção. Segundo ele, entre os fatores que justificam a estabilidade da Selic, estão o fluxo de dólar positivo para o Brasil - vide as emissões soberanas, da Petrobras e do Banco do Brasil -; e os sinais de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) não vai acelerar o aperto monetário nos Estados Unidos, o que indica que não há risco de fuga de capitais para a economia americana. E o efeito de um câmbio apreciado, continua Oliveira, é o arrefecimento das pressões inflacionárias. "Assim, valeria a pena manter a taxa por mais um mês pelo menos. Mesmo porque a estrutura a termos de juros (taxas futuras) já foi ajustada."

O economista-chefe da ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, não só defende a manutenção como aposta nessa alternativa. Para ele, diferentemente de um cenário em que há choques de oferta - que exige uma condução mais agressiva da política monetária como ocorreu nos últimos quatro anos -, quando as pressões são de demanda não existe urgência em subir o juro. "Nesse caso, o ajuste deve ser mais gradual e demorado", diz. Ele explicou que, para alterar o juro, há de se ter certeza se essas pressões, ligadas ao mercado de trabalho, à massa salarial e à capacidade instalada do País, vão se materializar.

Alex Agostini, da Global Invest, que aposta na manutenção da Selic, também acredita que o BC optará por reunir mais dados (de agosto e setembro) sobre o crescimento da economia antes de mexer no juro. "A atividade econômica já superou a primeira etapa, que era de recuperação. Agora, é preciso superar a fase da consolidação do crescimento, com avanços no emprego e renda", afirma o economista. Também reforçam a opção pela estabilidade, segundo ele, o câmbio favorável e o recuo das cotações do petróleo, minimizando a preocupação com o reajuste de combustíveis.