Título: Cenário incerto para o IR
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 17/04/2011, Política, p. 10

Câmara Base e oposição ensaiam 57 emendas à medida provisória que atualiza a tabela do Imposto de Renda

As 57 emendas apresentadas à medida provisória que corrige a Tabela do Imposto de Renda são um indicativo de que o Planalto terá de fazer esforço extra para evitar uma derrota na votação da matéria. O texto enviado pelo Palácio do Planalto prevê um índice de 4,5% por ano até 2014, mas tanto oposição quanto governo reclamam da correção proposta pela equipe econômica. Entre as emendas apresentadas, há sugestões de parlamentares alinhados ao Planalto e da oposição. As pedidas vão de 5,5% até 54%, essa última feita pelo PSol.

Depois de colecionar o primeiro revés no parlamento na aprovação da MP que concedeu benefícios à indústria automobilística, na quarta-feira, o governo já se movimenta para tentar controlar o apetite da base, turbinado pela oposição. Uma articulação até então improvável entre as bancadas governista e oposicionista trabalha sobre uma proposta única de reajuste, mais generoso do que o oferecido pelo governo. Em princípio, o diálogo com o Planalto está em aberto, mas dificilmente o governo conseguirá o mesmo cenário de tranquilidade que encontrou na aprovação do salário mínimo, em fevereiro.

O PSDB quer 5,9% e acusa o governo de aumentar a carga tributária por meio de um reajuste ínfimo. O petista Carlos Zarattini (SP) aponta o crescimento acelerado da inflação para pedir 5,5%. O DEM quer a tabela corrigida pela inflação, proposta semelhante à do pedetista José Antônio Reguffe (DF), que pede ainda mais 1% ao ano, para recompor perdas salariais. A movimentação do governo e da oposição tem como motivação as bases eleitorais, em especial a classe média, que seria mais onerada pela correção. Com o ajuste da tabela abaixo da inflação, ela pagaria mais impostos, diminuindo o peso dos reajustes salariais concedidos nos últimos anos, especialmente para o funcionalismo público.

Procissão De acordo com o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP), já existe uma procissão de parlamentares do partido interessados em fazer parte do diálogo. ¿Há uma tentação no Congresso em ampliar benefícios. A base do governo terá de conversar com o governo para tornar isso realidade. Não é algo que se faça à revelia com o governo¿, freia Teixeira. Em reservado, o próprio líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (PT-SP), admite que a votação será o teste mais árduo do governo no primeiro semestre. Como a MP foi editada no fim de março, o Congresso tem até meados de agosto para converter o texto em lei. Depois deste prazo, ela caduca e tem de ser editada novamente.