Título: Jantar com dissidentes causa revolta
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/09/2004, Política, p. A-8

Encontro do presidente com descontentes do PFL e PSDB teve forte reação da oposição. O jantar de ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os dissidentes do PFL no Senado e um senador do PSDB provocou revolta na Casa Alta do Legislativo. As cúpulas tucanas e pefelista, que fazem oposição ao governo Lula, acusaram o Palácio do Planalto de aliciamento. "Acho que o jantar foi indigesto. Infeliz do governo que adota estranhos métodos de cooptação", vociferou o vice-líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

Os convidados para o jantar consideraram, no entanto, a medida natural, e defendem-se de qualquer crítica vinda dos correligionários de suas respectivas legendas. Articulador parlamentar do jantar, o senador Antônio Carlos Magalhães (BA) rebateu o tucano paranaense, afirmando que não tem medo de indigestão, e acrescentando que todos os presentes no encontro são homens públicos, eleitos. "Não se deve desacreditar colegas que têm o mesmo peso, a mesma situação que o senhor. Não vejo nenhum aliciamento", devolveu ACM.

Apesar de afirmar que não há intenção de desrespeitar o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o senador baiano voltou a reclamar de grupos que "têm votos" dentro do partido, incluindo ele e o prefeito do Rio, César Maia, não têm voz no partido e perdem espaço para outros, como o candidato a vice na chapa do tucano José Serra, Gilberto Kassab (PFL-SP). O senador baiano também ironizou a declaração do presidente nacional do PFL, alegando que quem fosse ao encontro "ficaria mal na foto". "Quero ver quem é o fotógrafo que ele vai mandar para o jantar", destilou ACM.

Bornhausen marcou uma coletiva para hoje para expor sua opinião sobre o jantar com os dissidentes.

O clima azedou também no PSDB, cujo único representante convidado foi o senador Eduardo Siqueira Campos, do Tocantins. "PSDB é a alternativa de mudança. Temos que assumir a nossa responsabilidade enquanto oposição, não existe outro caminho", frisou Álvaro Dias.

O vice-presidente do Senado, Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO), mostrou-se imune às críticas e ao ódio da cúpula tucana nacional. Garante que não recebeu qualquer telefonema dos correligionários de seu partido pedindo para que não fosse ao jantar. Adiantou que, mesmo que recebesse, não mudaria sua posição. "O convite foi pessoal, não partidário. Nenhum homem público pode ser questionado, do ponto de vista moral, por aceitar um convite para conversar com o presidente da República", declarou Siqueira Campos.

O Planalto alegou que a conversa foi política e institucional.

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, negou que o Planalto esteja interessado em cooptar os senadores dissidentes ou em rachar a oposição para buscar maioria na Casa. Aldo conversou, por telefone, com os líderes do PFL, José Agripino (RN), do PSDB, Arthur Virgílio (AM) e do PMDB, Renan Calheiros (AL), explicando que o encontro era político e institucional, para tratar da pauta de votações do Senado. "O governo respeita o papel da oposição no País. Não há, neste convite, qualquer sentido de provocação", garantiu o ministro.

A mesma análise foi feita pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Sarney lembrou que o presidente Lula pode jantar com quem quiser, definindo quem será convidado. Brincou que ele próprio não foi convidado para o encontro de ontem. Depois, falando sério novamente, descartou que a reunião com os dissidentes tenha a conotação de rachar o PFL. "Não há esse desejo, de aliciamento, nem a intenção de excluir ninguém. Nada impede que o presidente se reúna depois com integrantes da oposição", previu.