Título: Lojas aumentam seu poder de negociação
Autor: Marcos Lopes Padilha
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/09/2004, Varejo de Eletrodomésticos, p. A-10

A principal característica do varejo de eletroeletrônicos é a forte concentração em algumas poucas redes de alcance nacional. Esse movimento foi acentuado ao longo dos anos 1990. A tendência pode ser constatada pelas aquisições de redes menores por redes maiores ocorridas em 1996 (a Casas Bahia comprou a Domus e a Modelar; já o Magazine Luiza adquiriu a Casas Felipe).

Simultaneamente, registravam-se projetos de expansão das redes de dimensão estadual e regional buscando novos mercados, o que acelerou esse processo. Ao mesmo tempo, as redes de hipermercados passaram a vender eletrodomésticos, competindo com o varejo especializado, com destaque para Extra (Grupo Pão de Açúcar) e Carrefour.

A concentração seguiu com a expansão das grandes redes Casas Bahia, Ponto Frio e Magazine Luiza, que compraram redes regionais, como a Lojas Arno, e aumentaram o número de lojas, bem como pelo naufrágio de lojas tradicionais, como Casa Centro, G. Aronson, Mesbla, Mappin e além da concordata da Arapuã.

Atualmente, o ranking do Balanço Anual, da Gazeta Mercantil, registra como a maior empresa do setor a Casas Bahia e que as três primeiras colocadas - Casas Bahia, Ponto Frio e Lojas Americanas - respondem por mais de 50% da receita do setor, fenômeno já verificado na Europa e nos EUA, onde os hipermercados são o principal canal de distribuição desses produtos.

Um estudo, encomendado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) à Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgado em junho último, confirmou a concentração do varejo e as difíceis condições de negociação que enfrentariam os fabricantes. Segundo o estudo, apenas cinco grandes grupos varejistas responderiam por 56% do faturamento do setor supermercadista. No entanto, o varejo contesta tal concentração, e sustenta que os movimentos da luta dos lojistas pela preferência do consumidor não são prejudiciais à indústria.

Como resultado da concentração, o varejo ganhou maior poder de negociação com seus fornecedores, conseguindo uma série de facilidades, como alonga-mento dos contratos, melhores preços, garantia de pontualidade na entrega e de qualidade dos produtos. Ademais, obtém descontos para lançamentos, promoções e bonificações, como os chamados "enxovais", quando o fabricante fornece gratuitamente o primeiro abastecimento de uma nova loja inaugurada.

As lojas ainda fogem de modelos de vendas, como os que "casam" as melhores ofertas de preços pela indústria num determinado produto à freqüência com que o distribuidor o compra, assim como descontos para a colocação de produtos em locais privilegiados da loja.