Título: Expansão do crédito impulsiona vendas
Autor: Marcos Lopes Padilha
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/09/2004, Varejo de Eletrodomésticos, p. A-10

Retomada foi verificada no final do ano passado. O desempenho do comércio especializado nos últimos meses aponta para crescimento acentuado em 2004. Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas de móveis e eletrodomésticos nos cinco primeiros meses do ano registraram um salto de 28,10%, em relação ao mesmo período de 2003, e, no acumulado de 12 meses, a alta foi de 14,35%.

Apenas em maio, o incremento das vendas chegou a 35,58%, com relação ao mesmo mês de 2003. O elevado patamar de vendas tem superado as estimativas de analistas do mercado e confirma a tendência já observada de aceleração maior nos segmentos que dependem diretamente do crédito para o consumidor.

Naturalmente, a alta das vendas reflete a melhoria no nível de emprego e na renda do consumidor, bem como uma melhora como um todo nos indicadores econômicos. Também reflete um comportamento mais favorável dos juros, após ter alcançado um expressivo patamar no começo de 2003.

A volta do crédito foi o principal responsável pelo aquecimento da demanda por eletrodomésticos, sobretudo a partir do segundo semestre de 2003. Ao final do ano passado, o volume de crédito para pessoa física tinha totalizado R$ 8,9 bilhões, nas operações com cheque especial; R$ 30,5 bilhões, no crédito pessoal; e R$ 35,3 bilhões no crédito direto ao consumidor (CDC). Em março de 2004, esse volume continuou crescendo, com o crédito pessoal atingindo R$ 33,2 bilhões (R$ 7,4 bilhões mais que no mesmo período de 2003), e o CDC, R$ 37,4 bilhões (R$ 6,1 bilhões a mais).

O volume no final do ano foi particularmente expressivo. Somente no Natal de 2003 - de 18 a 24 de dezembro -, as vendas à vista e com cheques pré-datados cresceram 17,2%, em comparação com o mesmo período de 2002, segundo o Indicador Serasa do Nível de Atividade do Comércio. Para as vendas a prazo, o crescimento foi de 24,2%. Tal comportamento revela o crescimento da confiança do consumidor, especialmente durante o Natal de 2003, para assumir novas dívidas.

Durante 2003, o governo federal lançou uma série de medidas com o objetivo de incentivar os bancos a emprestar mais dinheiro, incluindo concessão de empréstimos com desconto no salário e novas normas sobre microcrédito, que obrigam os bancos a direcionar 2% dos depósitos feitos em conta corrente para financiamentos de pequeno valor.

Em setembro de 2003, o governo Lula anunciou uma medida para estimular o consumo de eletrodomésticos. Autorizou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a oferecerem financiamentos para a compra de geladeiras, fogões, máquinas de lavar e televisores.

O financiamento foi oferecido aos titulares de contas simplificadas no BB e na Caixa e não contou com a participação de bancos privados. A medida fez parte de uma linha de crédito emergencial de R$ 200 milhões formada por recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), oferecida a pessoas físicas, que vigorou até o final de 2003.

Entretanto, no balanço do programa, a demanda pelos recursos colocados à disposição acabou sendo modesta. Dos R$ 100 milhões destinados ao Banco do Brasil pelo FAT para o financiamento, apenas R$ 6 milhões foram emprestados. A Caixa não precisou o quanto foi emprestado entre setembro e dezembro de 2003, mas adiantou que o volume também foi pequeno.

Na avaliação do mercado, o crédito para a compra dos eletrodomésticos não deslanchou porque o valor máximo do empréstimo (R$ 900) foi baixo, assim como o leque de produtos que puderam ser financiados (geladeira, fogão, máquina de lavar e televisão), restrito.

Além do crédito concedido pelo próprio lojista e pelas financeiras, outra modalidade que merece destaque é o crédito com desconto em folha de pagamento, concedido há anos para funcionários públicos. O Banco BMG, por exemplo, começou a oferecer esse tipo de crédito em 1999, aos servidores de Minas Gerais, e atualmente estima deter mais de 60% desse mercado. Fechou 2003 com R$ 1,24 bilhão em operações de crédito, crescimento de 52% em relação a 2002.

Em setembro de 2003, o governo federal anunciou o Programa de Crédito com Consignação e Folha de Pagamento. Trata-se de uma extensão do programa de desconto em folha de pagamento para o consumo, do setor público para o privado, permitindo que trabalhadores, empresas e entidades sindicais possam negociar condições de financiamento especiais a juros reduzidos diretamente com bancos, oficiais ou privados. Marcos Lopes Padilha/ Panorama Setorial