Título: Vale busca oportunidades na siderurgia
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/09/2004, Indústria & Serviços, p. A-11
Parceria com empresa sul-coreana e instalação de pólo no Rio têm como objetivo aumentar vendas. O presidente da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Roger Agnelli, afirmou que está avaliando vários investimentos em projetos siderúrgicos como forma de aumentar a venda de minério de ferro da empresa. E isso inclui uma parceria com a siderúrgica sul-coreana Posco para a construção de uma usina de placas para exportação em São Luís; a instalação de um pólo mínero-metalúrgico em Corumbá (MS), utilizando a produção de manganês e ferro-liga da Vale na região, e do manganês de Urucum, em Carajás - um projeto distinto do apresentado pela mineradora inglesa Rio Tinto ao governo de Mato Grosso do Sul - e, ainda, um possível pólo no Rio de Janeiro. Não há projeto em análise, mas a mineradora está disposta a olhar com atenção investimentos no estado.
"Lá (em Corumbá) há minério, energia a custo compatível e possibilidade de escoamento da produção via fluvial até a Argentina. Já a ferrovia precisa ser melhorada para comportar a instalação de um pólo na região", afirmou Agnelli, que, apesar de falar sobre os planos de expansão da Vale, evitou confirmar se a empresa ainda permanecia na disputa pela compra de parte de ativos da mineradora canadense Noranda. "Quando tivermos algum comunicado a fazer, faremos. Existem vários casos em que estamos avaliando aquisições. O objetivo é sempre agregar valor", disse.
Compras à parte, a mineradora também estuda projetos de ampliação da capacidade de produção. Um deles, é o de manganês em Urucum. A decisão ainda não foi tomada por conta das restrições na área de logística. O outro, considerado prioritário por Agnelli, é investir em uma nova unidade de ferro-liga. Atualmente, a Vale possui seis unidades de produção, uma delas em Corumbá.
Contrato de longo prazo
No mês passado, a Vale, uma das maiores produtoras mundiais de ferro-liga, assinou um contrato de venda com a inglesa Corus, uma das grandes siderúrgicas européias e também uma das principais clientes de minério de ferro da companhia, pelo prazo de três anos, para o fornecimento anual de 30 mil toneladas. O contrato, conforme a direção da Vale, marcou uma mudança no relacionamento comercial entre os produtores de ferro-liga e os de aço, que, até então, era realizado com transações no mercado "spot".
Além disso, a direção da Vale está atenta às oportunidades de criação de um pólo siderúrgico no estado do Rio de Janeiro, utilizando o tripé que sustenta os novos projetos no setor: o minério da companhia, nesse caso aquele produzido no sul do País; a ferrovia e o porto de Sepetiba, apesar das restrições de logística, como a necessidade de ampliação de seu terminal em Sepetiba.
"Se houver algum projeto no Rio que possa ampliar a venda de minério de ferro da Vale, nos interessa. Oportunidades existem, vai levar quem chegar primeiro e apresentar o projeto mais eficiente", afirmou o presidente da Vale, rechaçando qualquer negociação com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) nesse sentido. "A CSN tem sua própria mina. Não precisa da Vale", afirmou, referindo-se à Casa de Pedra, uma mina na qual a CVRD possui direito de preferência sobre o todo o minério vendido para terceiros e que tem capacidade para atingir uma produção de 30 milhões de toneladas de minério de alta qualidade.
Em relação à proposta apresentada à sul-coreana Posco, segunda maior siderúrgica do mundo, e uma das clientes de peso da mineradora, Agnelli foi claro: a Vale tem pressa em obter uma resposta dos coreanos. "É importante acelerar estes estudos, para que rapidamente se tome uma decisão. Esses investimentos são uma opção única para o Brasil", disse. No ano passado, a mineradora apresentou à Posco uma proposta para a construção de uma usina de placas no Maranhão voltada para a exportação. Os sul-coreanos, como informaram a este jornal, estão avaliando o negócio, mas o Brasil é uma entre as outras três opções globais de investimento do grupo, como a China, Rússia e Índia.
"Essa é a hora propícia de se investir em novos projetos. São Luís é o melhor lugar do planeta para a produção de placas", reiterou Agnelli, que participou ontem de um seminário da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) cujo tema era "A hora do investimento". Segundo ele, existe um desequilíbrio entre a oferta e demanda de produtos siderúrgicos atualmente no mundo. Não há produção suficiente para atender todos os pedidos. Em função disso, vários projetos estão saindo da gaveta, ao mesmo tempo em que muitos grupos, como a Posco, geram caixa suficiente para levar adiante novos planos de investimento. O cenário é tão favorável, que várias siderúrgicas aumentaram, recentemente, suas projeções de lucro para este ano.
Na semana passada, a Vale anunciou que negocia com a Petrobras um modelo que viabilize a substituição de energia elétrica por gás natural no fornecimento para as indústrias eletro-intensivas, como as dos setores de alumínio e de ferro-ligas. Além da alteração da matriz energética, com a maior participação do gás natural, a Vale quer também preços diferenciados no fornecimento de gás ao setor industrial, e de acordo com o tipo de indústria.