Título: Álcool para japonês... (pág. A-6)
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Primeira Página, p. A-1

"Este não é um tema fácil para os japoneses e precisamos convencê-los da segurança de adesão ao álcool como alternativa aos combustíveis fósseis do ponto de vista ecológico e financeiro", disse Roberto Rodrigues. Embora as negociações entre Brasil e Japão em torno do etanol se arrastem há quase três anos, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que acompanhou a visita se diz otimista quanto a um acordo. "Eles estão preocupados em cumprir o Protocolo de Quioto e também com a alta no preço do petróleo e precisamos aproveitar o momento para acelerar as negociações."

Representantes do setor sucroalcooleiro, também presentes na visita, minimizaram a questão da garantia de continuidade no fornecimento do produto como um entrave para um eventual acordo com o Japão. O presidente da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, garantiu que hoje não há este risco de descontinuidade como ocorreu no passado, quando a alta no preço do açúcar fez os usineiros reduzirem a produção de álcool e aumentarem a de açúcar, levando os postos de combustíveis ao desabastecimento.

"A produção brasileira de cana e de álcool não pára de crescer e temos condições de cumprir qualquer contrato de exportação que venha a ser fechado", garantiu Carvalho. "Não há mais o mesmo mercado para o açúcar nem mesmo preço." Segundo o executivo, hoje existem 33 usinas sendo construídas que entram em operação nos próximos dois anos e meio.

O presidente da Coimex Trading Company, Clayton Hygino de Miranda, embora reconheça como legítima a preocupação japonesa quanto à garantia de abastecimento, também considerou a questão como menos importante. "Se existir mercado para o etanol, os produtores brasileiros têm condições inclusive de, se necessário, aumentar a produção para atender a esta demanda."

A Coimex é uma das maiores exportadoras brasileiras de álcool e hoje vende 100 milhões de litros do produto para uso industrial aos japoneses. A empresa também está concluindo a construção de uma usina na Jamaica, um investimento de US$ 8 milhões. A empresa vai exportar álcool hidratado do Brasil para a Jamaica, onde o produto será transformado em álcool anidro e exportado para os EUA, onde já é permitida a adição do produto na gasolina. "Com a unidade na Jamaica, conseguimos exportar o álcool para o mercado norte-americano com isenção de impostos", justificou.

"Este trabalho de apresentação do álcool combustível, como a visita do primeiro ministro japonês à uma região canavieira, é fundamental para convencer outros países da viabilidade do produto brasileiro" disse o executivo. Além de produção em larga escala, segundo o presidente da Coimex, o etanol brasileiro é muito competitivo em termos de preço. "Com um barril de óleo a até US$ 22 o barril, o álcool brasileiro é viável para substituir o combustível fóssil."