Título: Plebiscito perde força
Autor: Santana, Ana Elisa ; Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 16/04/2011, Brasil, p. 14

Depois de tanto alvoroço em torno da proposta enviada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), à Comissão de Constituição e Justiça da Casa, o plebiscito sobre a venda de armas no Brasil começa a perder fôlego. Ontem, o mais recente ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, considerou desnecessária uma nova consulta popular em função da tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, onde um rapaz matou 12 crianças em uma escola usando armas ilegais. Ao declarar ser defensor do desarmamento, Fux destacou que o ¿povo votou errado¿ ao manter, no referendo de 2005, o comércio de armas de fogo. O ministro defende a aplicação do Estatuto do Desarmamento.

As entidades civis que carregam a bandeira do desarmamento também são todas contrárias a uma consulta popular ainda neste ano. Em parte porque também enxergam, no momento, uma maneira de cobrar a aplicação dos dispositivos previstos no estatuto no que se refere à fiscalização e ao controle por parte das autoridades brasileiras. O outro motivo é que temem perder novamente o debate num eventual plebiscito. ¿Acho que podemos entrar como da outra vez, quando tínhamos tudo para ganhar, com um cenário favorável, e acabamos perdendo. Acredito, então, que o melhor é deixar essa consulta para daqui um tempo, talvez um ano¿, afirma Ignácio Cano, pesquisador da área de violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

No referendo de 2005, mais da metade da população rejeitou a proposta da proibição da venda de armas no país. As organizações não governamentais pretendem, desta vez, ter um preparo maior em torno da mobilização a ser feita, caso uma nova consulta popular seja realizada. Para Antonio Rangel, do Instituto Viva Rio, a hora é de mostrar que muito pouco do estatuto é cumprido. ¿Do Exército que não fiscaliza a arma que sai da fábrica, passando pelas lojas que fazem o que querem e a Polícia Federal que não investiga o que é apreendido no país, está tudo errado. Não há controle¿, destaca Rangel. (RM)