Título: Novas rotas alimentam comércio entre a China e o sul da Ásia
Autor: Fuller, Thomas
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/04/2008, Internacional, p. A13

A malha viária, com vários trechos ainda sem pavimentação até dezembro, é um importante marco para China e seus vizinhos do sul. A cadeia baixa de montanhas aqui, ao pé da cordilheira do Himalaia, serviu por séculos como fronteira defensiva natural entre as civilizações do sudeste asiático e o gigantesco império do norte. A estrada raramente segue uma linha reta, pois serpenteia por campos de arroz terraplenados e plantações de chá. Maior integração Hoje, essas mesmas civilizações asiáticas se revezam implorando por maior integração com o império ao mesmo tempo em que temem a influência que esse possa exercer na condição de gigante econômico emergente. A China, por sua vez, cobiça a terra, os mercados e os recursos naturais de uma das regiões menos desenvolvidas e mais primitivas da Ásia. Com o comércio entre países fronteiriços registrando crescimento de dois dígitos a cada ano, a China ajudou a construir uma série de estradas dentro do território de seus vizinhos do sul. O governo chinês está arcando com a metade do custo de construção da ponte sobre o rio Mekong entre o Laos e a Tailândia, com conclusão prevista para 2011. A China financiou trechos da Rota 3 no Laos e reformou as estradas no norte de Mianmar, incluindo a famosa estrada de Burma usada pelos aliados na Segunda Guerra Mundial para abastecer os soldados que combatiam os japoneses. Além disso, a China está construindo oleoduto e gasoduto que parte da baía de Bengala e atravessa Mianmar com destino a Kunming. Acabando com o isolamento Conectadas, essas estradas estão quebrando o isolamento das pouco povoadas extensões das terras altas do Laos, Mianmar e Vietnã, áreas que em décadas recentes se deterioram com guerras, rivalidades étnicas e tráfico de heroína. As estradas se estendem pelo coração do Triângulo Dourado, a região que em outros tempos produzia 70% da safra de ópio do mundo. As novas estradas, assim como os portos modernizados ao longo do rio Mekong, estão mudando as dietas e os hábitos de gastos da população dos dois lados da fronteira. A China está vendendo frutas e os legumes verdes que crescem nos climas temperados para seus vizinhos do sul, e está comprando frutas tropicais, borracha, cana-de-açúcar, óleo de palma e frutos do mar. "Não se costumava encontrar maçãs nos mercados tradicionais", disse Ruth Banomyong, especialista em logística que leciona na Universidade Thammasat, em Bangcoc. A China explodiu trechos rasos do Mekong para facilitar a navegação de barcas de carga, possibilitando aos comerciantes transportar maçãs, pêras e alface pelo rio. O preço das maçãs na Tailândia caiu para o equivalente a 20 centavos cada, de mais de um dólar há dez anos. As rosas e outras flores cortadas da China tomaram o lugar das flores trazidas da Holanda, tornando o Dia dos Namorados mais em conta para os bolsos dos tailandeses. Os comerciantes agora têm a opção de transportar seus produtos em barcas, caminhões ou ambos. Crescimento do comércio No geral, mesmo antes de a estrada ser completada, o comércio entre a China e os países das regiões montanhosas do sudeste asiático, Camboja, Laos, Mianmar, Tailândia e Vietnã cresceu de forma impressionante, para US$ 53 bilhões em 2007, de pouco mais de US$ 1 bilhão há uma década. Durante a jornada de uma semana por cidades e vilas ao longo da rota de Kunming a Bangcoc, os produtores de arroz, colhedores de chá, empresários, traders e altos funcionários do governo expressaram satisfação e alguma empolgação pelo projeto estar quase concluído, depois de décadas em execução. Chen Jinquing, alto funcionário do governo chinês de Xishuangbanna, na província de Yunnan, disse que a estrada ajudará a assegurar que os agricultores levarão seus legumes e flores para o mercado, evitando um problema que testemunhou nos anos 80, quando devido ao precário sistema de transporte, melões foram deixados apodrecendo nos campos. "Até os porcos se recusaram a comê-los, ele disse. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 13)(/ The New York Times)