Título: Banco Mundial analisa as perspectivas do seguro popular
Autor: Bueno, Denise
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/04/2008, Finanças, p. B3

Após uma semana entrevistando diversos executivos do governo e da iniciativa privada, a comitiva do Banco Mundial em visita ao País acredita que o microsseguro no Brasil deverá ser desenvolvido antes do microcrédito, ao contrário do que ocorre em outros países. "O microcrédito é pouco desenvolvido no Brasil. Já em microsseguros encontramos alguns diamantes em termos de produtos e muita boa vontade por parte das empresas e do governo, o que é difícil de ver em outros países emergentes", disse Mike Goldberg, especialista do Banco Mundial em microfinanças do setor privado para a região da América Latina e Caribe. Ele proferiu palestra no seminário sobre as melhores práticas internacionais de microsseguro, promovido ontem, no Rio de Janeiro, pela Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e Capitalização). O técnico citou os programas do governo Proagro e Bolsa Família, ambos voltados para a inclusão social. Capitalização Entre os produtos comercializados pela iniciativa privada local, Goldberg mencionou os títulos de capitalização como uma forma de incentivar a poupança; o modelo simplificado do seguro funeral vendido pela Sinaf Seguradora; o seguro obrigatório DPVAT em razão da facilidade de emissão de bilhete e de acordos para a cobrança do prêmio; e a linha de financiamento "crédito amigo", concedido pelo Banco do Nordeste. "Este banco é um excelente parceiro pelo conhecimento que tem do consumidor de menor renda. Já o DPVAT pode contribuir muito com o microsseguro por ter uma forma rápida e básica de operacionalização. No entanto é compulsório e acreditamos que o microsseguro deve ser facultativo", disse. Segundo ele, o foco do banco é ajudar a desenvolver o microsseguro e não o seguro popular entre a população de baixa renda na América Latina, África e Sudeste Asiático. O Brasil e o México são os principais mercados da região. "A penetração de seguros no PIB nacional é de apenas 3% porque as seguradoras estão focadas nas classes mais ricas, enquanto a população brasileira está concentrada na classe de menor renda", acrescentou. Este percentual é muito baixo em relação a média de 7% registrada em outros países emergentes. "Há um grande potencial no Brasil e por isso estamos aqui", disse. Os principais produtos são: vida, invalidez, saúde e patrimonial. Mas a ajuda do Banco Mundial não é financeira. Pode até resultar em um apoio financeiro, mas a idéia central é dar apoio técnico em forma de palestras e consultoria sobre os aspectos legais, de supervisão e desafios operacionais. O principal gargalo do microseguro é a forma de cobrança do prêmio. Hennie Bester, consultor financeiro do FinMark Trust vê o varejo como um canal de distribuição mais eficiente do que as agências bancárias. Isso porque o cliente de menor renda tem uma melhor percepção do atendimento do comércio do que o prestado pelos bancos. Muitos consumidores não têm conta em banco mas freqüentam as lojas de varejo. Coberturas adequadas Além do varejo e das agências bancárias, Goldberg citou como canais eficientes de distribuição de microseguros, as farmácias, cooperativas e casas lotéricas. O técnico ressaltou a importância de conhecer o consumidor de microsseguros para que se possa desenvolver produtos com coberturas adequadas a preços acessíveis. "Além disso, é preciso ter uma força de venda capacitada, que fale a língua do consumidor para se obter sucesso", disse. Os técnicos do Banco Mundial frisaram a importância de pagar rapidamente uma indenização em microseguro pois a perda de uma motocicleta por exemplo, pode comprometer o sustento de toda uma família. "Uma pessoa bem atendida conta sua história para três pessoas. Uma mal atendida conta para dez e isso, em um segura que é basicamente vendido dentro de uma comunidade, pode determinar o sucesso ou o fracasso do programa". Rogelio Marchetti especialista em finanças para a América Latina falou sobre a importância de se preparar uma regulamentação baseada em riscos para garantir a solvência das companhias. No entanto, esta regulamentação tem de ser específica para microseguros a fim de não inviabilizar a operação pelo excesso de normas. Goldberg citou o banco mexicano Azteca, que iniciou suas operações no Brasil, disposto a conquistar o público de menor renda. "Se as empresas brasileiras não desenvolverem este mercado, outros virão, pois o potencial aqui é muito grande", afirmou. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)()