Título: O que atualmente é uma boa política industrial?
Autor: Loures, Rodrigo da Rocha
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/03/2008, Opinião, p. A3

27 de Março de 2008 - As novas gerações de política industrial se diferenciam das anteriores porque buscam um ativismo governamental que não se confunda com estatismo ou com concessão generalizada de incentivos e subsídios indiscriminados. A todos - sociedade, governo e indústria - interessa um arranjo institucional transparente, que mobilize o setor privado e incentive o investimento e a competitividade. Essa nova geração de política precisa fomentar a inovação e o desenvolvimento tecnológico. Tem que olhar com atenção para os mercados externos. Deve ser intensiva na coordenação de esforços das várias agências de governo, e entre o governo e o setor privado. Tem de ser clara em relação aos incentivos e ter metas a serem alcançadas. Mais: precisa estimular o protagonismo privado e das instâncias locais de governo. O relançamento da política industrial brasileira, nos próximos dias, cria a oportunidade de reforçar esses componentes. A coordenação das ações de governo será sempre o maior desafio. Nesse terreno, será necessária uma dose extra de esforço, mas o engajamento do BNDES na consecução da política industrial e a maior articulação do banco com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e demais instituições públicas coloca a questão em outro patamar. Outro aspecto da nova política industrial gera boas expectativas. É fato de ela incorporar políticas industriais regionais ou estaduais complementares ao arranjo nacional. Isso é importante para um país de dimensões continentais como o Brasil. Não será possível avançar na agenda de desenvolvimento sem o efetivo engajamento das regiões e dos estados da federação. Há especializações regionais significativas na estrutura industrial e diferenciais importantes de competitividade. Combinar uma ativa política industrial nacional com políticas regionais de competitividade vai, com toda a certeza, dar maior concretude às ações de promoção da indústria. A relevância dessa ação local é indiscutível, pois muitas dimensões da competitividade dependem dessas ações. A ação federal é vital na concessão de crédito, pelo papel que o BNDES assume no financiamento de longo prazo. É fundamental em muitos marcos regulatórios setoriais e na política macroeconômica. Mas em inúmeras dimensões sistêmicas, a promoção da competitividade depende essencialmente de ações locais: como na formação de mão-de-obra técnica, de engenheiros e pesquisadores; no adequado ambiente de negócios e redução da burocracia; e na dotação de infra-estrutura. Mesmo os sistemas de inovação e de apoio à qualidade só têm sentido se examinados à luz das especificidades de cada região, de sua estrutura industrial e das instituições de pesquisa e de serviços tecnológicos existentes. As políticas de promoção dos Arranjos Produtivos Locais (APL) deixam clara a relevância da ação local. E exemplificam que as políticas têm sucesso onde há protagonismo empresarial. Isso compromete todo o sistema de representação das indústrias, na figura das federações e sindicatos. É preciso agora dar um passo além. Devemos mobilizar estas instituições no esforço de dar um enfoque regional ao detalhamento setorial e dos componentes sistêmicos da política industrial. Isso permitirá adaptar a nova política às diversidades existentes no Brasil. No âmbito federal, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) deu contribuições relevantes para a formulação da nova política. Essa mesma interação deve acontecer nos estados. Por isso, nós empresários devemos valorizar e participar ativamente da vida dos nossos entes de representação empresarial. A função faz o órgão. Quando não se usa, atrofia. A nova geração de política industrial deve ser, acima de tudo, um espaço de diálogo entre os setores público e produtivo para proporcionar um ambiente propício ao crescimento sustentável. Assim, é preciso que em todos os estados o empresariado local se articule para demandar e influir na formulação de políticas regionais. De tal sorte que do Oiapoque ao Chuí se observe uma grande e saudável mobilização para criar estratégias regionais de competitividade e fazer investimentos com inovação. kicker: As diretrizes de âmbito nacional devem se combinar com arranjos locais As novas gerações de política industrial se diferenciam das anteriores porque buscam um ativismo governamental que não se confunda com estatismo ou com concessão generalizada de incentivos e subsídios indiscriminados. A todos - sociedade, governo e indústria - interessa um arranjo institucional transparente, que mobilize o setor privado e incentive o investimento e a competitividade. Essa nova geração de política precisa fomentar a inovação e o desenvolvimento tecnológico. Tem que olhar com atenção para os mercados externos. Deve ser intensiva na coordenação de esforços das várias agências de governo, e entre o governo e o setor privado. Tem de ser clara em relação aos incentivos e ter metas a serem alcançadas. Mais: precisa estimular o protagonismo privado e das instâncias locais de governo. O relançamento da política industrial brasileira, nos próximos dias, cria a oportunidade de reforçar esses componentes. A coordenação das ações de governo será sempre o maior desafio. Nesse terreno, será necessária uma dose extra de esforço, mas o engajamento do BNDES na consecução da política industrial e a maior articulação do banco com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e demais instituições públicas coloca a questão em outro patamar. Outro aspecto da nova política industrial gera boas expectativas. É fato de ela incorporar políticas industriais regionais ou estaduais complementares ao arranjo nacional. Isso é importante para um país de dimensões continentais como o Brasil. Não será possível avançar na agenda de desenvolvimento sem o efetivo engajamento das regiões e dos estados da federação. Há especializações regionais significativas na estrutura industrial e diferenciais importantes de competitividade.Combinar uma ativa política industrial nacional com políticas regionais de competitividade vai, com toda a certeza, dar maior concretude às ações de promoção da indústria. A relevância dessa ação local é indiscutível, pois muitas dimensões da competitividade dependem dessas ações. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) RODRIGO DA ROCHA LOURES* - Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e presidente do Conselho de Política Industrial da CNI. Próximo artigo do autor em 17 de abril)