Título: Com união, Bovespa e BM&F estimam cortar 25% dos custos
Autor: Feltrin, Luciano
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/03/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 27 de Março de 2008 - O acordo de integração operacional entre Bovespa e BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) foi formatado bem antes do prazo planejado inicialmente por ambas. As duas companhias anunciaram, ontem, a criação da Nova Bolsa, empresa que agrupará os serviços e produtos oferecidos pelas duas plataformas. As bolsas brasileiras haviam estabelecido até 19 de abril para decidir os termos de execução da união. Com a junção, as bolsas estima economizar cerca de 25% na manutenção das estruturas operacionais, de R$ 500 milhões ao ano. Pelo acordo, cada ação atual de Bovespa e da BM&F equivalerá a um papel da nova companhia, cujo nome é apenas temporário. O acerto contempla, também, o desembolso, pela BM&F, de R$ 1,24 bilhão a detentores de ações da Bovespa. O valor será rateado de acordo com a proporção de papéis de cada um na empresa. Com o anúncio da operação, o País passa a ter a terceira maior bolsa do mundo e a segunda das Américas em valor de mercado. Em números atuais, Bovespa e BM&F têm, juntas, valor de mercado de aproximadamente R$ 31 bilhões. A empresa que surge é a maior da América Latina nos mercados de ações e derivativos. Tem participação de, em média, 80% no volume médio negociado em ações diariamente na região. No mercado de derivativos e futuros, os negócios diários movimentam cerca de US$ 67 bilhões. E a expectativa é de que haja muito espaço para crescimento. "Pelas possibilidades que vislumbramos em agronegócio no Brasil, esse volume é muito baixo. Devemos crescer bastante", afirmou o diretor-geral da BM&F, Edemir Pinto. A Nova Bolsa só perde, em valor, para a Deutsche Börse e a Bolsa de Chicago. "O Brasil, que sempre foi considerado um País de natureza agrícola, torna-se, com a fusão, uma referencia mundial em futuros e um grande integrante do sistema financeiro internacional", disse o presidente do conselho da Bovespa, Raymundo Magliano. "O Brasil vive há anos uma revolução silenciosa, que hoje tem um de seus capítulos históricos", afirmou. Período de transição As duas companhias anunciaram a criação de um comitê para organizar a transição para a Nova Bolsa. O órgão, cujo funcionamento deve ocorrer até 31 de dezembro deste ano, será composto por representantes de Bovespa e da BM&F. E seu primeiro desafio será definir, no prazo de 60 dias, o nome do executivo que ficará no comando da nova empresa. Outra escolha importante será dos membros que comporão o conselho de administração. O processo de integração total das bolsas, entretanto, deve ser bem mais longo. Pode chegar a até três anos. "Estimamos que este seja o período máximo. As companhias têm sistemas de liquidação bastante distintos e muitos desses detalhes precisarão ser discutidos com os órgão de regulação e supervisão do País", afirmou o diretor-geral da Bovespa, Gilberto Mifano. "Durante a transição, o mercado será informado periodicamente sobre o que estiver acontecendo." A Nova Bolsa também será listada no Novo Mercado, o mais elevado nível de práticas de governança corporativa adotadas no Brasil. "A boa gestão em governança é uma de nossas maiores metas para a nova empresa", disse Edemir Pinto. "É um assunto que demandará uma interlocução bastante freqüente com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários)", afirmou. Os modelos de governança corporativa adotados pelas duas bolsas após o processo de abertura de capital é bem diferente. A Bovespa, por exemplo, criou a BSM (Bovespa Supervisão de Mercado), uma associação civil sem fins lucrativos cuja dotação orçamentária é autônoma. Seus recursos vêm de diversas fontes, como taxas recolhidas de atividades como supervisão, fiscalização e auditoria. Do IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) surgiu ainda a Bovespa Holding, cujas principais funções são o controle completo de sua cadeia de serviços e produtos, como negociação de papéis, listagem de empresas e liquidação de títulos. No caso da BM&F, a estrutura de governança deu prioridade à nomeação de importantes figuras do mercado de capitais para integrar um conselho de autoregulação. Os três membros que o compõe têm mandato de três anos. Os executivos, cuja escolha e hipotética destituição é feita por assembléia geral de acionistas, não podem ocupar postos no conselho de administração. Esse órgão reúne 11 membros. O último a ser integrado ao time foi o ex-presidente da CVM Marcelo Trindade, cuja nomeação foi ratificada pela empresa em 26 de fevereiro. Ver também página B3(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)()