Título: Há pressão inflacionária, diz Mantega
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Nacional, p. A-4

Para Yoshiaki Nakano, reprimir a alta dos preços com o aumento de juros é uma "idiotice". O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Guido Mantega, disse ontem - no segundo dia do 1 Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo - que há pressões inflacionárias, discordando do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu que, na segunda-feira, disse não ver pressões inflacionárias que justifiquem um aumento de juros.

Para o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), André Costa Carvalho, a discussão principal em torno da taxa de juros básica do Brasil deve estar em quais são as origens das pressões inflacionárias, e não se elas existem ou não.

Na opinião de Carvalho, essas pressões são resultado de aumentos pontuais da energia elétrica, das commodities e da carga tributária. Para ele, diferentemente do que se fala, o aumento da inflação não é resultado do crescimento da demanda interna. Dentro da lógica da atual política monetária do Brasil, o Banco Central (BC), disse, será "obrigado" a aumentar a Selic para conter a inflação e conseguir que o índice no próximo ano corresponda a meta de 4,5%.

O economista da Fiesp alertou, porém, que o aumento de juros, embora possa conter de certa forma o avanço da inflação, não permitirá ao governo alcançar nenhum de seus outros objetivos. Para ele, a única saída para conter as pressões inflacionárias sem aumento de juros é diminuir o peso da política monetária e ampliar a importância do ajuste fiscal na condução econômica do país.

Para o diretor da escola de economia da FGV, Yoshiaki Nakano, é "idiotice" reprimir a inflação com aumento de juros. Além disso, o economista não vê uma pressão inflacionária que justifique um aumento de juros. Na sua opinião, no momento está aparecendo uma inflação que ficou reprimida justamente pela política de juros altos de outras épocas. "As empresas trabalhavam no vermelho e agora começaram a recuperar suas margens, assim como o consumidor começou a recuperar o poder de compra. Como se trata de uma retomada cíclica, o instrumento é a política fiscal, não os juros", disse Nakano.

Ele defende que o que deve ser feito agora é um ajuste fiscal adicional, e não um aumento de juros. "O maior tomador é o próprio governo. Com o aumento de juros a dívida aumenta e consome uma maior parcela do Produto Interno Bruto (PIB)", disse. Portanto, são as despesas do governo que devem diminuir, e não subir os juros.

Outro argumento de Nakano contra o aumento dos juros é que a recuperação econômica não é de grande fôlego, porque não houve uma retomada expressiva do emprego. "A base de comparação é fraca e no ano que vem o crescimento será menor", disse o diretor da FGV, que prefere não fazer apostas sobre qual será a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) hoje. Disse, no entanto, ser "provável" um aumento da Selic.

A pressão das commodities

Para Mantega, o aumento da inflação é causado principalmente pelas commodities, devido, na avaliação do ministro do Planejamento, ao sucesso do Brasil no exterior. "Estamos conseguindo exportar tanto que somos contaminados pela elevação dos preços das commodities."

Na opinião do ministro, as decisões mensais do Copom não devem ser objeto de amplas discussões na sociedade. "Eu não acho que tem que ser discutida a medida pontual, imediata, do Copom a cada mês. Isso não é objeto de discussão. É só o Copom que tem que fazer isso", disse ele, quando questionado sobre a afirmação feita ontem pelo ministro da Casa Civil de que a sociedade deveria discutir de forma ampla os juros do país.

"Eu não vi as declarações do Dirceu e não creio que ele tenha dito que não há liberdade porque no governo temos vários fóruns. Mas, no caso das taxas de juros, esta é uma decisão estrita do Copom e não adianta a gente fazer uma discussão ampla", disse. "Mas nós podemos fazer uma discussão ampla sobre os rumos da economia, sobre se as pressões inflacionárias existem ou não, e outros temas."