Título: No Brasil, poupança interna e investimento caminham separados
Autor: Lívia Ferrari
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Nacional, p. A-4

"Poupança interna e investimentos não caminham juntos no Brasil". É o que diz o professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Martins de Melo. Por trás dessa constatação estão as elevadas taxas de juros, que inibem possibilidades de tomada de financiamentos para investimentos. "Setenta e cinco porcento dos investimentos industriais no País são feitos mediante lucros retidos das empresas", disse o economista, acrescentando que o crédito representa apenas 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Para ele, a política de privatização dos governos passados (Collor e Fernando Henrique Cardoso) encolheu o mercado de capitais do país. "A maioria das empresas privatizadas fechou o capital."

Segundo Martins de Melo, a poupança interna do Brasil supera a cifra de R$ 300 bilhões, contabilizando aí recursos dos fundos de investimento, fundos de pensão públicos e privados e recursos de brasileiros no exterior.

"Com as altas taxas de juros, fica difícil direcionar recursos para investimentos, pois as aplicações no mercado financeiro permitem ganhos sem riscos", disse Martins de Melo. "Por mais recursos que tenha o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ele não poderá dar conta sozinho de financiamentos a economia. Ele tem restrições orçamentárias", disse o professor, que participou ontem de seminário sobre estratégias industriais e tecnológicas, organizado pela UFRJ.

A questão complica mais diante da atual retomada da economia, que começa a dar sinais de necessidade de novos investimentos para ampliação de capacidade de produção instalada em determinados setores. "Os grandes projetos industriais ainda não chegaram ao BNDES", admitiu o diretor da área de indústria do banco estatal, Fabio Erber.

Martins de Melo alerta, em particular, para a vulnerabilidade na área da inovação tecnológica, que exige investimentos de longo prazo em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O Brasil, em termos comparativos, vai mal neste campo, com baixíssimo índice de patentes geradas internamente. Enquanto isso, 98,9% das patentes depositadas pela Coréia do Sul são produzidas no país de origem. Nos Estados Unidos, essa relação é de 92,2% , na Alemanha 84,7%. No seu entender, a política industrial tem que andar junto com a política de inovação tecnológica. O vice-presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Jorge Ávila, observou que os países em desenvolvimento têm pouca cultura de P&D. Disse que 98% das patentes registradas no INPI são de multinacionais.