Título: O otimismo da indústria não deve ser interrompido
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/04/2008, Editoriais, p. A2

O s números da sondagem realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas reproduzem com fidelidade o entusiasmo do setor industrial. Nessa pesquisa, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) aumentou 5,8%, avançando dos 114,7 pontos de fevereiro para 121,4 pontos em março. Esse resultado é o maior desde outubro do ano passado, quando o ICI alcançou 123,4 pontos, na esteira das boas expectativas do Natal passado. Tais dados da pesquisa divulgada anteontem confirmam a manutenção do clima de otimismo na indústria, que, após o período de acomodação da virada do ano, retornou a padrões de produção mantidos ao longo do segundo semestre do ano passado. Nesse ritmo, não é exagero prever que a produção anualizada deve crescer próximo a 6% em 2008. É fato, no entanto, que os pessimistas de plantão já se apressaram em apresentar outros dados dessa mesma expansão. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), o indicador que mede o efetivo uso das máquinas e equipamentos nas indústrias analisados sem ajuste sazonal, também apresentou elevação dos 84,7% de fevereiro para 85,2% de março, o percentual mais alto desde dezembro último, quando o índice atingiu 86,7% da capacidade industrial. Além disso, a sondagem também mostrou o aumento de 27% para 31% da proporção de empresas que consideram o atual nível da demanda como "forte" e caiu de 10% para 7% o índice das empresas que apontam o atual nível de consumo como "fraco". O otimismo no setor é tão significativo que 37% das 1.068 empresas consultadas pretendem aumentar contratações nos próximos três meses. No ano passado, nesse mesmo mês, a sondagem encontrou essa disposição de expandir a folha de pagamento apenas em 25% dos entrevistados. Antes que algumas vozes excessivamente preocupadas insistam na necessidade de frear o consumo, é preciso lembrar que há sinais muito consistentes de elevação da Formação Bruta de Capital Fixo, os investimentos voltados à produção até o inédito patamar de 21% do PIB, como aliás lembraram os técnicos da FGV que apresentaram a sondagem industrial. No ano passado a taxa de investimento ficou em 17,6% do PIB, uma alta de 13,2% em relação ao índice de investimento alcançado em 2006. A rigor, os fatos indicam que esse ciclo de investimentos iniciado no ano passado ganhou aceleração própria. Vale lembrar que estudo do Departamento de Pesquisas Econômicas do Bradesco, divulgado na segunda semana de março, mostrou que as empresas aceleraram o anúncio de novos investimentos por observarem significativa tendência de manutenção no crescimento da economia brasileira. Esse índice contabiliza os anúncios feitos por empresas nacionais e estrangeiras, além das estatais e indicou que no primeiro bimestre deste ano os investimentos anunciados somaram R$ 89,8 bilhões, 46,1% maior do que os aportes prometidos no mesmo período de 2007. É fato que ao longo de 2007, esse índice, que alcançou R$ 720,8 bilhões, já foi 14% maior do que a soma dos aportes de 2006, que atingiu R$ 631 bilhões. Essas expectativas favoráveis acompanham as fortes encomendas de máquinas e equipamentos além de fortes inversões na construção civil. Por essa razão, não há riscos reais visíveis mesmo quando os dados divulgados anteontem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sugerem que o consumo das famílias podem ter uma projeção de crescimento de 7,5% neste ano, em relação a 2007. Em dezembro, as previsões eram bem diferentes e mais baixas, de 6,3%. Porém, tanto a expansão dos índices de emprego, como as políticas compensatórias do governo federal, que efetivamente criaram mecanismos de transferência de renda para os setores menos favorecidos, indicam que a demanda doméstica terá mesmo um forte impacto na projeção de crescimento do PIB neste ano. Vários economistas, de diferentes correntes de pensamento, afirmam que, ainda que certos setores do governo insistam em que o País já enfrenta aquecimento de demanda, a hipótese de frear o consumo teria o condão de reverter fortemente as expectativas de investimentos com sérios reflexos nas projeções de crescimento do produto nacional. Há outros remédios disponíveis para conter qualquer pressão de demanda que passam ao largo de medidas de redução de crédito ou mesmo de qualquer elevação nas taxas de juro básico. Não deve passar despercebido que até mesmo conselheiros econômicos do presidente Lula, bastante identificados com posições contrárias a novas subidas de juros, já manifestaram a sensata posição de que o governo pode esfriar essa pressão com cortes nos gastos do Estado que são reconhecidamente excessivos. Como essa medida é política e não econômica, apesar de seus reflexos na produção, emprego e renda, a palavra final é, indiscutivelmente, do presidente Lula. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2)