Título: Indústria desacelera e produção cai 0,5%
Autor: Saito, Ana Carolina; França Anna Lúcia
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/04/2008, Nacional, p. A5

A indústria deve encerrar o primeiro trimestre com forte crescimento na produção em relação ao mesmo período do ano passado. Em fevereiro, o setor avançou 9,7%, vigésimo mês consecutivo de taxas positivas, e já acumula expansão de 9,2% no primeiro bimestre. No entanto, na comparação com janeiro, descontadas as influências sazonais, a produção caiu 0,5%, após aumento no mês anterior (1,7%), sinalizando uma desaceleração do crescimento. Para a consultoria econômica LCA Consultores, os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram claramente a desaceleração da produção industrial no primeiro bimestre do ano comparado aos meses anteriores. Pela estimativa da consultoria, o primeiro trimestre deste ano deve totalizar um crescimento de 7% em relação a igual período de 2007, inferior à taxa registrada no quarto trimestre do ano passado, em torno de 7,9%. "Se olharmos para os números com ajuste sazonal o crescimento no primeiro trimestre de 2008 é de 0,9% ante o crescimento de 1,9% do quarto trimestre de 2007", diz o economista-chefe da empresa, Bráulio Borges. Para ele, a economia está esfriando na comparação mensal, apesar de ficar muito acima dos patamares alcançados no último ano. O economista do Banco Real, Cristiano Souza, ressalta que as taxas de crescimento estão perdendo força na margem. "Desde novembro, o indicador da média móvel de três meses está mais ou menos estabilizada", afirma. Segundo Souza, o principal motivo para a desaceleração é o fim do impulso monetário com a interrupção da seqüência de cortes na taxa básica de juros, hoje em 11,25% ao ano. A última redução na Selic aconteceu em setembro, em 0,25 ponto percentual. "Essa interrupção não restringiu, mas deixou de estimular a economia", afirma. Segundo sondagem realizada pela NTC Research para o Banco Real, a indústria continua em expansão, mas a taxa de crescimento diminuiu pelo quinto mês consecutivo. O Indicador Gerentes de Compras caiu de 53,4 em feveiro para 52,8 em março, patamar mais baixo em quatorze meses. Uma leitura acima de 50 aponta que, em geral, o setor está em expansão. O índice referente à produção apresentou queda de 55,2 para 54,1 no período. No caso de novos pedidos, passou de 53,9 para 53,7. Segundo a pesquisa, os estoques tanto de insumos e como de bens finais continuam a declinar - os indicadores estão abaixo da marca de 50. "Os fabricantes estão vendendo mas não repõem os estoques", afirma Souza. Para o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Leonardo Mello de Carvalho, o desempenho do setor no primeiro trimestre será tão quanto o registrado nos últimos três meses de 2007. A partir do segundo semestre, a tendência é de diminuição do ritmo. "O emprego formal, o rendimento e crédito continuam em crescimento. A questão é até que ponto a indústria vai conseguir suprir essa demanda." A comparação com o ano passado, porém, não é considerada boa pelo consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida. "É preciso levar-se em conta que a base para comparação entre um ano e outro é fraca, uma vez que foi em fevereiro de 2007 que a indústria começou a crescer." Para o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, não há motivo para tanto "temor" em relação a uma possível explosão da demanda. "O grande crescimento mesmo está sendo puxado pelo investimento em máquinas e equipamentos, que subiu 25%, o que denuncia aumento de capacidade para atender à demanda", diz. Para ele, o Brasil hoje está percorrendo um caminho mais "virtuoso que tortuoso". O economista da LCA diz que mesmo sem investimentos, a formação bruta de capital fixo cresceria cerca de 10,6% em 2008. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(