Título: Crise nos EUA pode afetar o Brasil, diz Lula
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/04/2008, Politica, p. A9

Brasília, 2 de Abril de 2008 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que o Brasil pode ser afetado pela crise econômica nos Estados Unidos, mas, ao mesmo tempo, frisou que se mantém otimista, já que China, Índia e o resto da América Latina continuam crescendo e comprando produtos brasileiros. "A crise americana preocupa todas as pessoas de bom senso", disse Lula em um discurso durante um ato oficial que reuniu ministros, economistas, líderes civis e alguns dos principais empresários do País. "Sabemos da importância dos Estados Unidos no comércio mundial e que uma recessão prolongada pode ter reflexos na economia mundial, e, certamente, o Brasil não estará imune a uma crise profunda nos EUA." Lula falou em tom mais grave sobre a crise dos EUA, que levou o Tesouro norte-americano a reformar o sistema financeiro do país, na maior intervenção desde a crise de 1929. Lula comandou ontem em Brasília a primeira reunião trimestral do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de 2008. Ao fim da sessão ele destacou aos 13 ministros e 90 líderes da sociedade presentes, que, ao contrário de outras vezes em que o mundo enfrentou momentos de incerteza semelhantes, o Brasil encontra-se preparado. "O dado é que a crise é grave, como mostram as intervenções dos bancos centrais da Europa e do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que, para conter a crise, têm injetado dinheiro em instituições que pareciam sólidas", disse. Até semana passada, Lula insistia que a crise americana estava limitada ao mercado de hipotecas de alto risco e que não afetaria o Brasil. Também presente ao encontro, para o líder empresarial do setor siderúrgico, Jorge Gerdau, a crise financeira deve chegar ao Brasil de forma indireta. Porém, diz, o País está preparado para enfrentar seus efeitos. "Indiretamente, no cenário mundial [o Brasil] vai [ser afetado pela crise] de uma forma ou outra. Diretamente, o Brasil está com capacidade de enfrentar as crises, mas isso não quer dizer que não vá ter alguns reflexos nos preços das commodities", disse. Gerdau estimou que a produção de aço, vital para a indústria automobilística, por exemplo, não será afetada. No Brasil, o empresário garante que o setor tem condições de suprir o mercado com folga. Ainda em seu discurso, Lula admitiu que o processo econômico brasileiro ainda não está consolidado, mas, ao ratificar a política econômica do governo e defender a necessidade de uma reforma tributária, ressaltou: "Vamos continuar da forma como estamos", disse ele. O presidente defendeu o crescimento do consumo e do crédito aliado ao crescimento da produção. "Na hora que houver descompasso [entre a demanda e a oferta], todos nós sabemos que o risco é muito grande e já vivemos isso em outras vezes. Vamos descobrir quais os gargalos." Sobre os rumos da política econômica, o presidente afirmou que nunca trabalhou com um "plano B". "Contorno tem que ser feito nas rodovias, mas na política econômica estamos no caminho certo." A nova política industrial que o governo prepara, e que pode ajudar o País a enfrentar a crise, poderá ser lançada dentro de 10 a 15 dias, informou Lula. Sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Lula afirmou que é um processo que está ensinando o governo a "desburocratizar o próprio governo". Ele disse ainda que, com o PAC, está acontecendo uma "revolução" que muita gente ainda não descobriu nesse país. Reforma tributária Lula também afirmou ontem que é uma "questão de honra" aprovar a reforma tributária ainda este ano. "Não é possível, se estão todos de acordo, vai lá e vota, não há porque não votar. Vota o grosso e depois tenta consertar o que precisar", afirmou o presidente em discurso na reunião plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Lula provocou os integrantes do CDES a debaterem a reforma política. "Eu acho que é a mais importante de todas elas e não sei por que as pessoas não querem fazer, a gente percebe a fragilidade dos partidos, mas as pessoas não querem fazer", afirmou. O conselho é formado por 13 ministros e 90 líderes da sociedade civil, que discutem questões nacionais e elaboram propostas que servem de base para as políticas públicas e programas do governo federal. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Redação, com agências - EFE, Reuters e Agência Brasil)