Título: Déficit comercial do setor de máquinas pode ir a US$ 12 bi
Autor: Nascimento, Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/04/2008, Industria, p. C3

São Paulo, 4 de Abril de 2008 - Se continuar no mesmo compasso, o déficit da balança comercial da indústria brasileira de bens de capital mecânicos poderá alcançar US$ 12 bilhões este ano. Em uma previsão otimista ficará na casa dos US$ 10 bilhões, afirmou ontem o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, durante a divulgação do dados bimestrais do setor. Em 2007, o saldo comercial ficou negativo em US$ 4,8 bilhões. No primeiro bimestre de 2008 cresceu 156% em relação a igual período do ano passado, para US$ 1,53 bilhão, resultado de uma alta de 66,1% nas importações, que somaram US$ 3,27 bilhões, conforme pesquisa da entidade. As exportações foram a US$ 1,74 bilhão, expansão de 26,8%. "Estamos quebrando recordes históricos", disse Aubert Neto, referindo-se a curva ascendente não apenas das importações como também das exportações. "Mas o ritmo das vendas externas infelizmente não acompanha o das importações." Isoladamente no mês de fevereiro o aumento das compras externas de máquinas e equipamentos foi de 73,3%, ante igual mês de 2007, para US$ 1,51 bilhão. O valor, entretanto, mostra uma desaceleração de 14,5% quando comparado ao das importações de janeiro deste ano. Segundo Aubert Neto, o crescimento está relacionado ao câmbio, que favorece as importações, e ao aumento do consumo interno. No primeiro bimestre, o consumo aparente - produção somada a importação e descontada a exportação - cresceu 49,9% e foi a R$ 13,59 bilhões. Já o faturamento do setor subiu 39,8%, ficando em R$ 10,89 bilhões em comparação aos R$ 7,79 bilhões do mesmo intervalo de 2007. Ante bimestre imediatamente anterior, o faturamento ficou estável, com queda de 1%. Aubert Neto lembrou que a base de comparação de 2007 é fraca, já que o setor vinha de período mais fraco de vendas. "As vendas de janeiro e fevereiro de 2007 foram as mais fracas do ano. A recuperação começou em abril." Ante a média mensal de 2007 a deste ano está cerca de 10% superior. As principais origens das importações foram, mais uma vez, os Estados Unidos, com crescimento de 52,1% e US$ 835 milhões do total; Alemanha, com alta de 66,7% e US$ 465 milhões; e a China - que passou do quinto lugar no ranking dos principais fornecedores obtido no ano passado para a terceira posição no bimestre -, com evolução de 147,8% e US$ 364 milhões. "Este ano a China com certeza deverá ultrapassar a Alemanha e ficará em segundo lugar no ranking", afirmou o presidente da Abimaq, que considera essa possibilidade preocupante. Conforme disse, as compras de máquinas chinesas estão substituindo a produção nacional. "A maior parte não agrega valor, avanços tecnológicos", observou, ressaltando que a "praga" (a máquina chinesa) está concorrendo com as produzidas localmente nos mais diversos segmentos e ganha pelos baixos preços. "Têm muitas que não passam de US$ 7 o quilo." Exportações Já os principais destinos das exportações foram os Estados Unidos, com US$ 349 milhões do total, mas queda de 12,3%, principalmente, devido à crise que assola o país; a Argentina, com alta de 63,3% e US$ 254 milhões; e o México, mais 18% e US$ 74 milhões. As vendas para a América do Sul cresceram substancialmente, disse Aubert Neto, fruto de um esforço das fabricantes de conquistar mais espaço nesse mercado, que importa cerca de US$ 20 bilhões por ano e do qual o Brasil não chega a deter 15%. No primeiro bimestre, segundo o executivo, as exportações para a região subiram em torno de 50%, ficando próximas de US$ 600 milhões. A Venezuela, por exemplo, somou quase 50% mais, com US$ 68 milhões; e o Paraguai aumentou suas compras de máquinas brasileiras em quase 130%, alcançando US$ US$ 49 milhões. As vendas ao Peru subiram mais de 85%, para US$ 59 milhões, mostra o levantamento, que indica também que os chineses adquiriram 33,6% mais máquinas brasileiras, com US$ 31 milhões, o que deixa um déficit razoável do setor entre os países. A indústria finalizou o bimestre com ocupação em torno de 86% da capacidade instalada, em relação aos 82,5% do mesmo intervalo de 2007, em um turno de operações, conforme Aubert Neto. A carteira de pedidos ficou estável - crescimento de 1,3% - com uma média de 19,44 semanas Crédito A Abimaq anunciou ontem também que irá reativar possivelmente no próximo mês o Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC) - que empresta dinheiro aos fabricantes associados que queiram financiar a produção e também adiantar recebimento de duplicatas (créditos a receber). Criado com recursos de fundos institucionais em 2006, o FIDC funcionou até meados do ano passado, quando então foi interrompido por causa de mudança e adaptação do novo gestor: era gerido pela Rio Bravo e agora está nas mãos do Banco Fator, informou o diretor-secretário da Abimaq, Carlos Buch Pastoriza. O FIDC voltará às operações mais robusto. No período em que funcionou tinha R$ 100 milhões disponíveis para crédito e agora tem patrimônio líquido de R$ 200 milhões e a previsão é chegar a R$ 500 milhões em seis meses e R$ 1 bilhão em um ano, disse Pastoriza, baseado em projeções do Banco Fator. "O banco se propõe a ampliar os recursos e está com uma gestão bastante agressiva, com equipe específica para vender o negócio." A taxa de juros é de 1,4% ao mês, sem imposto sobre operações financeiras (IOF). Conforme Pastoriza, na versão anterior a inadimplência foi zero. O prazo, que antes era de média de quatro meses, será esticado: o máximo para pagamento de empréstimo para financiar a produção será de um ano. O empréstimo para troca de duplicata pode alcançar até 85% do valor, já para a produção ficará limitado a 65%, informou. O executivo disse que o BNDESpar tem 25% do FIDC, o Petros outros 25%, mas o Banco fator, a própria Abimaq, entre outras, também compõem o patrimônio líquido. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)()