Título: Uma eleição que pode ser decidida longe da Itália
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/04/2008, Internacional, p. A19

Os eleitores que na próxima semana poderão conturbar os resultados das eleições parlamentares italianas, não estão em Roma, Florença ou Milão. Na realidade, sequer estão na Itália. O setor mais indeciso, afirmam os especialistas, fica no exterior - nos novos distritos eleitorais, criados há apenas dois anos, como os da América do Norte e na do Sul, onde os italianos que ali residem elegem seus representantes ao Parlamento. Segundo as últimas pesquisas de institutos italianos, o magnata das comunicações, Silvio Berlusconi, 71 anos, tem uma vantagem de seis a sete pontos percentuais sobre seu principal adversário, o ex-prefeito de Roma, Walter Veltroni, 51 anos. A fórmula que dá voto aos italianos residente no exterior começou há dois anos, quando foi concedido o direito de voto a um pequeno grupo imprevisível de eleitores que controlam um bloco crucial de seis cadeiras no Senado. Estas cadeiras serão de fundamental importância no pleito de 13 e 14 de abril, para o qual as pesquisas de opinião não mostram um candidato favorito capaz de controlar a Câmara Alta. "Este é um grande fator desconhecido", disse Franco Pavoncello, analista político em Roma. "É difícil prever para que lado irão estes eleitores. Eles têm interesses muito diferentes e perspectivas políticas também muito diferentes". Nas últimas eleições, em 2006, os italianos expatriados confundiram os analistas votando contra Berlusconi, no poder, e contribuíram para conferir uma vitória muito apertada a Romano Prodi. Os analistas afirmam que Berlusconi, desta vez o favorito nas pesquisas, está redobrando os esforços para falar aos cerca de 3 milhões de italianos no exterior que estão registrados para votar - um número maior do que em Roma. Turano, o senador padeiro Talvez ninguém conheça melhor as dificuldades para se chegar aos eleitores no exterior do que Renato Turano, um senador italiano que tem uma padaria em Chicago. Turano, do Partido Democrático, é um tranqüilo candidato à reeleição à sombra de uma barulhenta campanha presidencial americana. Ele obteve o primeiro mandato de cinco anos ao Senado, em 2006 - e depois viu o governo de centro-esquerda ruir em janeiro, obrigando à realização de novas eleições, três anos antes da data pré-estabelecida. Enquanto a instabilidade política é um fato até banal na Itália, onde desde a II Guerra Mundial se sucederam 61 governos, eleições fora de hora não são facilmente digeridas nos EUA. Turano diz que é alvo de olhares perplexos de confusos eleitores norte-americanos. "Muitos deles falam: `Mas você acabou de ser eleito! Por que está se candidatando de novo?¿ Então, preciso explicar", disse Turano, cuja família deixou a Itália para tentar uma nova vida em Chicago em 1950. "Muitos compreendem. Mas muitos outros não". Em Buenos Aires, o senador Luigi Pallaro, titular de 81 anos, diz que corre de um aeroporto para outro, a fim de levar sua campanha a lugares distantes como Bogotá, São Paulo, Santiago e Caracas - todos pertencentes ao seu distrito na América do Sul. "Irei a todos estes países", disse Pallaro. Assim como Turano, Pallaro afirma que mal viu seus eleitores desde que foi eleito, mas que a maioria de duas cadeiras no Senado para o primeiro-ministro torna cruciais os votos para senador no exterior. "Fui uma espécie de prisioneiro na Itália, porque o meu voto foi fundamental para sustentar o governo Prodi", disse Pallaro, um independente que afirma que se alinhará com quem ajudar sua comunidade de italianos no exterior. O longo braço da Máfia O pequeno empresário Renato Venier, que mora na Alemanha, é um dos eleitores preocupados com a imagem da Itália no exterior. É dono de uma sorveteria em Duisburg, perto de uma pizzeria que no ano passado esteve nas manchetes de todo o mundo devido a um tiroteio da Máfia em que morreram seis pessoas. A polícia acredita que as mortes foram encomendadas por um chefão do crime organizado do sul da Itália. Venier vota em Berlusconi, embora duvide que o político conservador ou seu adversário, Walter Veltroni, consiga esmagar a organização criminosa. Entretanto, Venier afirma que confia mais na sensibilidade para os negócios de Berlusconi, um magnata bilionário das comunicações e um dos homens mais ricos da Itália. "Não acredito que se consiga acabar com a Máfia", disse Venier, que vive na Alemanha há 28 anos. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 19)(Reuters e AFP)

--------------------------------------------------------------------------------