Título: Bancos apostam em infra-estrutura
Autor: Silvia Rosa
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/04/2008, Fnanças e Mercado, p. B1

Com o aumento das restrições no mercado de crédito no exterior e da contração das captações via emissão de ações, os financiamentos dos projetos de infra-estrutura por meio de fundos de private equity têm se tornado uma alternativa para a viabilização dos empreendimentos. Atentos a esse cenário, os bancos têm ampliado sua participação nesse mercado e lançado novos fundos com foco em infra-estrutura. Só no ano passado, o financiamento de projetos via operações de participação acionária cresceu 68,2% em relação a 2006, somando R$ 4,467 bilhões, o que representa 27,52% do total de recursos investidos nos projetos, segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Só o Banco Banif lançou neste ano três fundos FIPs (fundo de investimento em participação), que fazem parte do programa de levantar cerca de R$ 2,4 bilhões até 2011 em fundos de private equity. Segundo o diretor responsável por essa área no Banif Investment Bank, Marcos Rechtman, cerca de um terço desse capital deve ser levantado com investidores estrangeiros e o restante com institucionais brasileiros. O banco deve entrar com uma participação entre 5% e 10% de cada fundo. O Banif, que já participou em parceria com o Banco Santander do consórcio vencedor do leilão de Santo Antônio, do complexo de usinas hidrelétricas do Rio Madeira, planeja entrar em outras concessões e leilões na área de infra-estrutura que devem ser realizados neste ano por meio do Fundo Infra. Lançado pelo banco neste ano, ainda em fase de captação, deverá levantar cerca de R$ 600 milhões. Segundo Rechtman, o objetivo é investir em torno de R$ 120 milhões em empresas com faturamento entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões, adquirindo uma participação de 20% em cada uma. "No momento, há três empresas escolhidas. Nosso objetivo é oferecer apoio para melhorar sua gestão e dobrar de faturamento no prazo de três anos." Entrada em concessões Rechtman ressalta que os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na área de rodovias, ferrovias e logística em geral podem ser alvo de interesse do fundo. A concessionária CCR, que venceu o leilão de licitação do trecho Oeste do Rodoanel paulista, negocia com um fundo estrangeiro uma participação de até 40% do capital da SPE (sociedade de propósito específico) que será criada para administrar a concessão. Só neste ano, além da licitação do Rodoanel há pelo menos mais 1.611 quilômetros de estradas paulistas que devem ir a leilão, incluindo as rodovias Ayrton Senna, Raposo Tavares e Marechal Rondon. Além disso, outras operações devem movimentar o mercado como a construção da nova linha Expresso Aeroporto, que ligará a Estação da Luz ao Aeroporto de Cumbica, em São Paulo, e a licitação para a parceria público privada (PPP) da Linha 5 do Metrô paulista, além da área de portos, incluindo a licitação do Porto de Itajaí (SC).Além do fundo com foco em infra-estrutura, o Banif também lançou no começo deste ano o FIP Caixa Ambiental, em parceria com a Caixa Econômica Federal, para investir na área de saneamento e meio ambiente. O fundo tem patrimônio de R$ 400 milhões, que poderá chegar a R$ 600 milhões, segundo Rechtman. "Estamos com cinco empresas no `pipeline¿, e nosso maior interesse é na área de água e esgoto, inclusive em algumas empresas que podem ser privatizadas", afirma. Além desses dois fundos, o banco lançou este ano em parceria com o Banco do Brasil,o FIP Brasil Governança, de R$ 600 milhões, com foco em empresas com boa governança corporativa, e também está estruturando um FIP voltado para investimentos no setor imobiliário, que deverá captar cerca de R$ 100 milhões. "Estamos em fase de aprovação de quatro operações e os recursos desse fundo poderão ser investidos nos setores de logística, hotéis turísticos, empreendimentos comerciais, e galpões industriais ligados aos projetos do PAC", destaca Rechtman. Foco no PAC A Caixa Econômica Federal, gestora do Fundo FI- FGTS, que faz parte do PAC, conta com cerca de R$ 5 bilhões que devem começar a ser investidos em projetos de infra-estrutura ainda no primeiro semestre deste ano. Segundo o gerente nacional de fundos especiais do banco, Roberto Madoglio, os recursos desse fundo podem chegar a R$ 17 bilhões e devem ser investidos em projetos dos setores elétricos, de saneamento, portos, ou aplicados em fundos de participação de outros gestores, desde que tenham foco em infra-estrutura. O banco ainda possui outros FIPs, como o Caixa Ambiental, que acabou de lançar em parceria com o Banco Banif, e pretende, segundo Madoglio, lançar mais um fundo voltado para empreendimentos do setor imobiliário. O Banco Bradesco também pretende aumentar seus investimentos em private equity por meio de seu fundo de investimento em participações (FIP), que possui cerca de R$ 2 bilhões em recursos próprios em carteira. O primeiro aporte, de cerca de US$ 30 milhões, já foi realizado para a empresa Ersa, para a construção de usinas de biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). O fundo não possui foco específico, e tem como expectativa de retrorno uma taxa de 120% do CDI, com previsão de investimento entre cinco e sete anos. O Banco do Brasil Investimentos tem atuado como "advisor" na gestão de alguns fundos, como o FIP Brasil Governança, lançado em parceria com o Banif, e também tem investido em fundos de private equity de outros gestores. De acordo com o diretor da área de mercados de capitais e investimentos do BB, Francisco Cláudio Duda, o banco já investiu R$ 400 milhões em seis fundos, como parte do programa de investimento aprovado em 2006. Entre os fundos que receberam aporte do BB estão o FIP Brasil Energia, gerido pelo UBS Pactual, InfraBrasil, com gestão do ABN Amro Real, GP Logística, da GP Investments, além de participar como cotista de três fundos de venture capital, com foco em empresas de pequeno e médio porte.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)()