Título: Bancos no Brasil têm condições de resistir à retração global
Autor: Carvalho, Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/04/2008, Finanças, p. B2

Os bancos brasileiros, mesmo com riscos potenciais derivados do crescimento do crédito acima do PIB e da dificuldade em medir o endividamento total das pessoas físicas, têm condições de resistir a eventuais pressões de uma retração econômica global. Esta é a conclusão da Fitch Ratings no relatório "MPI-3 do Brasil: Sinal Amarelo Piscando - Será que os Bancos Apertaram o Cinto?", divulgado ontem. Para a agência, o "sistema financeiro brasileiro está adequadamente posicionado para absorver potenciais pressões de uma retração econômica". Recentemente, a Fitch moveu o Brasil da categoria MPI 2 para MPI 3 em sua Matriz de Risco Sistêmico. O indicador usado pela Fitch, o MPI (Macro-Prudential Risk) tem uma escala de MPI 1 a MPI 3, em que 1 é o menos arriscado e 3 é o mais. "Esta mudança ocorreu em virtude do potencial de risco sistêmico, por conta da manutenção da expansão do crédito acima da tendência histórica, somado e mais forte que o PIB, e também à acentuada valorização do real", explica Peter Shaw, diretor-executivo do grupo de instituições financeiras latino-americanas da Fitch. Na visão da Fitch, variações grandes nesses indicadores em um curto período de tempo aumentam o potencial de um país ter uma crise no setor bancário. Em quatro anos, o crédito registrou expansão equivalente a mais de 20% do PIB, atingindo mais de 50% do PIB. "A tendência é que o crédito continue crescendo acima do PIB este ano, com menor força, mas os fundamentos do sistema e das maiores instituições continuam fortes e bem posicionados para absorver as potenciais pressões sobre suas crescentes carteiras de crédito", avalia Shaw. "Os bancos brasileiros estão capitalizados e boa parte da rentabilidade elevada tem sido usada para reforçar o capital e elevar as provisões, importante para a solidez do sistema." Peter Shaw citou ainda o fato de os bancos virem diversificando as linhas de crédito. "No passado, só emprestavam para governo e empresas. Hoje trabalham com pessoas físicas, com crédito voltado ao consumo, como imobiliário e veículos", diz. Embora o sistema financeiro brasileiro tenha condições de resistir a uma desaceleração econômica mundial, o relatório da Fitch aponta a existência de riscos envolvendo a expansão do crédito. "Não existe uma comprovada cultura de crédito no Brasil e fica difícil saber como o tomador dos recursos vai se comportar em um momento de adversidade, principalmente o consumidor de crédito de mais longo prazo, como o imobiliário e de veículos", explica Shaw. Outro problema, segundo o executivo, é que não há como medir o endividamento global das pessoas físicas. "Como não há um cadastro único, muitos podem estar tomando emprestado em diferentes bancos sem que as instituições mensurem adequadamente este risco", diz. "Nos primeiros anos, o volume de crédito e a base de tomadores cresciam forte, agora o crédito cresce mais forte que o número de tomadores, o que mostra o processo de endividamento das pessoas." De qualquer forma, o diretor da Fitch elogiou o nível de provisionamento dos bancos brasileiros, em torno de 6,5% da carteira de crédito, com um saldo líquido (provisionamento menos perdas) entre 3% e 4,5%. O diretor da Fitch comentou ainda possíveis iniciativas do governo para conter a forte expansão do crédito, na tentativa de reduzir pressões inflacionárias. "A Fitch considera positiva uma iniciativa do governo para desacelerar o ritmo de expansão do crédito, o que pode evitar um endividamento muito grande das pessoas, reduzindo um risco sistêmico", diz Shaw. Os resultados dessa desaceleração nos bancos, segundo a Fitch, provavelmente seriam sentidos em 2009, quando uma expansão mais lenta pressionaria a receita líquida financeira. "As pressões para provisionamento também devem influenciar as margens operacionais, especialmente se o aumento das taxas de juros internas vier a resultar em pressões adicionais sobre a qualidade dos ativos", aponta o relatório. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)()