Título: Produtor põe boi na sombra e obtém melhor resultado
Autor: Aguiar, Isabel Dias de
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/04/2008, Empresas e Negócios, p. C1

A constatação de que a produtividade dos bovinos aumenta com o sombreamento das pastagens levou o criador Nelson Pineda a concentrar seus rebanhos em áreas abandonadas em que as florestas encontravam-se em franco processo de regeneração. Seu projeto levava em conta que era preciso proporcionar condições ideais para o desenvolvimento do gado. Os pastos em questão foram formados originalmente após a derrubada de florestas. Ao serem abandonados, a mata retorna espontaneamente com a mesma diversidade e a mesma riqueza originais. Em vez de desmatar novamente com autorização dos órgãos ambientais oficiais, Pineda decidiu preservar as então pequenas árvores que cresciam originalmente e, ao mesmo tempo, recuperam as pastagens para realizar uma pecuária em regime consorciado com o reflorestamento. A iniciativa apresentou resultados acima do esperado, segundo informa. Na sombra, o gado se desenvolve mais rapidamente, porque está protegido do calor excessivo. "Temperaturas amenas são essenciais para o desenvolvimento do gado", declarou. "Basta observar os bois, que em geral se reúnem em torno das poucas árvores existentes nos pastos convencionais, em busca de algum conforto. A experiência foi feita inicialmente em Tupã, na região da Alta Paulista no Estado de São Paulo, e mais tarde em Lins (Noroeste do Estado). Com o avanço da cana-de-açúcar, o pecuarista decidiu levar seus rebanhos para oeste da Bahia, trocando algumas de suas terras, que se valorizavam rapidamente com as ofertas de compra por parte das usinas, por outras até um terço mais baratas na Bahia, disse Pineda. O pecuarista conta que a região denominada como Gerais, no planalto do oeste baiano, reunia as condições ideais para dar continuidade ao seu projeto e consorciar pecuária com a manutenção de florestas naturais. Eram inúmeros os pastos abandonados naquela região próxima ao Vale do São Francisco. Ele explica que não se trata de cerrado. A região de Gerais, diz Pineda, é plana e o solo fértil. "Foi só deixar as árvores originárias daquela região se desenvolverem para garantir boas condições para o desenvolvimento da pecuária". Conflito ambiental O produtor, que também planta café na cidade paulista de Garça, diz que mantém um total de 6 mil cabeças em pastos consorciados com florestas nativas, num total de 5 mil hectares. Os bons resultados, segundo ele, são visíveis, o que foi possível graças à tecnologia desenvolvida pela Embrapa Florestas. A dificuldade está no fato de que um bom pasto precisa de sol e isso exige que espaçamento entre as árvores. Pineta alerta que o projeto de consorciar pastos e florestas exigiria maior flexibilidade por parte dos órgãos ambientais. A necessidade de buscar maior produtividade na pecuária de corte exige, na maioria das vezes, interferir no processo de regeneração da floresta o que não é entendido pelas autoridades ambientais. A conciliação das regras, diz, permitiria tornar rentáveis áreas como essas. Se a salvação das florestas está em torná-la rentáveis, essa seria uma boa alternativa para conservação ambiental. Mas isso não ocorre por causa da rigidez das normas ambientais. Boa parte de pastos sombreados acabam sendo formados de maneira informal.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)()