Título: Uma nova empresa de transporte aéreo no Brasil
Autor: Silva,Ozires
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/04/2008, Opiniao, p. A3

No Brasil uma nova expressão foi recentemente criada, a do "apagão aéreo", significando os impactos e os reflexos dos transtornos que estão impressionando a população usuária, levando-se em conta as insuficiências do nosso sistema brasileiro de transporte aéreo. Desde a interrupção das operações da Varig, a emblemática colisão do avião da Gol com um jato executivo, pilotado por tripulação norte-americana, e as ações governamentais que causaram um declínio, em 2007, de quase 3 milhões de passageiros embarcados em São Paulo, parece que a cabeça do passageiro aéreo brasileiro ainda não está refeita. Em adição, em expressivo comunicado no início deste abril de 2008, o presidente da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), Giovanni Bisignani, pede ao sistema latino-americano de transporte aéreo para redobrar seus esforços e melhorar as taxas de acidentes na região. Assinala que, embora a segurança no continente tenha melhorado nos últimos anos, acidentes recentes - com grande repercussão - trouxeram à luz deficiências até então não percebidas pela população. Bisignani levanta que os níveis de segurança, medidos pelo número de acidentes por cada grupo de 6 mil vôos permanece sendo o dobro da média mundial, quando comparados com os observados entre as empresas associadas àquela organização. Tais fatos montam um quadro preocupante e, completa o presidente da Iata: "Esta situação não é aceitável e precisa ser melhorada imediatamente. Cooperação de todos e uma visão abrangente baseadas em padrões globais são necessárias para enfrentar os desafios e modernizar um antigo e insuficiente sistema de controle de tráfego aéreo. Segurança não conhece fronteiras e precisa ser nivelada com o que se observa no mundo de hoje". Independentemente da crise financeira mundial, detonada pelos problemas econômicos da maior economia do mundo, os Estados Unidos, e os valores elevados de US$ 100 por cada barril de petróleo, o mundo está voando, precisa voar e voará muito mais. O modal trazido pelo avião veio para ficar e progressivamente, em face da sua extraordinária velocidade - em relação a qualquer outro tipo de veículo --, sua penetração na vida das pessoas e nos negócios em longo prazo é inevitável. Mas para que o vôo possa atingir a todos, segurança é um atributo absolutamente essencial. Autoridades, operadoras, fabricantes e tantos outros que se envolvem com o negócio precisam estar conscientes de suas responsabilidades e não imaginar que qualquer preço poderá ser pago para que o serviço subsista para o futuro. Investimentos estão sendo feitos em todo o mundo, em aeroportos, novos aviões e mesmo novas empresas estão sendo criadas para colocar a aviação a serviço da riqueza e do progresso mundial. Aqui mesmo no Brasil, o americano, nascido no Brasil, David Neeleman, manifestou recentemente sua intenção de criar uma nova empresa de transporte aéreo que deverá operar nos mesmos moldes de sua JetBlue, com sede no Estado de Nova York, nos Estados Unidos. A intenção do empreendedor é de privilegiar os conceitos de eficiência operacional, operação a baixo custo e um máximo de conforto, ao lado de amplos serviços para os passageiros. Os primeiros passos da nova companhia indica que operará com aviões produzidos pela Embraer, de São José dos Campos, buscando ampliar o número de cidades que poderá dispor dos serviços de transporte aéreo. Na atualidade, as principais empresas operadoras servem somente um total de 44 localidades no território nacional, levando a uma concentração de tráfego que vem distorcendo a demanda e deixando de atender a uma expressiva proporção da procura nacional. Por outro lado, uma simples análise do montante de encomendas de aviões novos colocadas nos principais fabricantes mundiais de jatos de pequeno porte, destinados ao transporte executivo ou corporativo, leva à conclusão de que, em futuro não muito longínquo, o número de aeronaves em vôo nas diferentes rotas de todo o mundo se intensificará intensamente. Tudo isto somado, tanto a demanda das grandes operadoras como do transporte aéreo regional, e mais agora dos pequenos aviões para reduzida quantidade de passageiros, antecipa um cenário de alta utilização pressionando os serviços de terra e de proteção ao vôo. No Brasil, praticamente todas as atividades no solo são prestadas por entidades ligadas direta ou indiretamente ao governo. Não há necessidade de amplos estudos para demonstrar que os ativos técnicos, humanos ou materiais, hoje disponíveis, mostram insuficiências e, mais, não garantirão os padrões de segurança e eficiência requeridos. Assim, o alerta está levantado, indicando a necessidade de investimentos para que no futuro o País não seja retardado por uma infra-estrutura que o mundo demonstra ser, agora essencial. kicker: A demanda de jatos de pequeno porte enfatiza a insuficiência de infra-estrutura (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) OZIRES SILVA* - Diretor-presidente da mantenedora da Universidade de Santo Amaro. Ex-presidente da Embraer. Próximo artigo do autor em 5 de maio )