Título: Prejuízos com a dengue serão contabilizados a médio prazo
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Fonte: Gazeta Mercantil, 07/04/2008, Nacional, p. A4
7 de Abril de 2008 - O Rio de Janeiro poderá avaliar os prejuízos provocados pela epidemia de dengue na economia em um mês. Nesse período, será possível comparar, por exemplo, os números de reservas e ocupação hoteleira e avaliar o impacto da doença no fluxo de turistas, além dos reflexos no comércio. Segundo Carlos Alberto Amorim Ferreira, presidente nacional da Associação Brasileiras das Agências de Viagem (ABAV), a imagem do Brasil e sua escolha como destino de turistas europeus e norte-americanos serão afetadas. "A situação não deveria ter chegado até onde chegou". De acordo com o diretor adjunto da diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Sérgio Francisco Piola, é difícil mensurar hoje os impactos da epidemia de dengue na economia. "Na área de saúde, ao gastar mais com algo que poderia ser evitado (a dengue), deixamos de lado outros investimentos", comenta o médico sanitarista Mas, além da elevação dos custos diretos com a maior demanda por serviços na área de saúde, há prejuízos indiretos. A Federação do Comércio do Estado do Rio Janeiro (Fecomercio-RJ) prepara um levantamento, com divulgação prevista para o próximo mês, com o número de faltas de empregados do setor. "As pessoas estão perdendo horas de trabalho para levar familiares ao hospital. O número de turistas também pode diminuir", afirma Piola . A crise na área de saúde provocada pelo retorno da doença já é a principal informação sobre o País nos últimos dias na imprensa internacional e ganhou as páginas da prestigiosa The Economist. O retorno do mosquito da dengue, a visão das tendas militares de hidratação e as falhas de prevenção e o pânico da população entram na composição da imagem brasileira no exterior. Os primeiros a tirar o Rio do programa de viagens serão os turistas domésticos de lazer e negócios. O visitante do exterior, que planeja todos os passos da viagem e compra os pacotes com antecedência, deve repensar sua decisão de conhecer as praias do Rio. Na fase atual, ainda não há cancelamentos. Para a ABAV, a epidemia de dengue no Rio deve afetar o movimento de turistas a médio e longo prazos. Na projeção de Ferreira, a concorrência deve tirar do Rio os visitantes estrangeiros que podem partir para outros países ou outras cidades brasileiras nas quais não haja risco de contrair a doença. Esta última alternativa é a melhor para Ferreira, porque, pelo menos, o turismo brasileiro não sai perdendo. O noticiário internacional é reforçado pelo trabalho das embaixadas de países como Portugal, França, Estados Unidos e Espanha, entre outros, que buscam informações sobre o quadro epidêmico junto às autoridades de saúde brasileiras para orientar adequadamente os seus turistas. Segundo Ferreira, "houve um descaso total", afirma Ferreira. Para o presidente da ABAV. "As autoridades devem encarar esse problema de forma mais séria", comenta. A decisão do laboratório farmacêutico Merck S.A. de adiar o Simpósio de Oncologia que realizaria no Rio nos dias 11 e 12 de abril é um dos primeiros sinais dos efeitos da crise de saúde no exterior. Em nota, a Merck informa que "o adiamento fez-se necessário em virtude de vários participantes internacionais, preocupados com os casos de dengue reportados no estado, terem cancelado sua vinda ao evento". O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis seção Rio de Janeiro (AbihRJ), Alfredo Lopes de Souza Júnior, afirma que houve alguns cancelamentos de eventos na Barra da Tijuca, próximo a Jacarepaguá, um dos focos da dengue. "Estamos trabalhando com turismo de negócio. A nossa preocupação é que vamos ter um feriado do tamanho do carnaval em abril (21 cai na segunda-feira e quarta, 23, é feriado estadual de São Jorge). Se a doença não for debelada, e acho que já está havendo um declínio, vamos ter problemas", afirma. A expectativa é de uma taxa de ocupação entre 80% e 84% no feriado. Segundo Lopes, na capital, 45% das vagas já estão pré-reservadas. Mesmo com a epidemia, o Rio continuou atraindo turistas no mês passado. Em março, a taxa de ocupação hoteleira na cidade (Zona Sul/Oeste) subiu para 71,62%, ante 61,27% em igual mês do ano passado. Na Barra da Tijuca/São Conrado, as redes registraram aumento de 38,28% para 67,13% no mesmo período. Em Ipanema/Leblon, o percentual aumentou de 67,15% para 84,58%; no Leme/Copacabana, de 67,63% para 84,58%. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Jaime Soares de Assis e Ana Carolina Saito)