Título: Petrobras aguarda sinal verde para ter a Esso
Autor: Monteiro, Ricardo Rego
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/04/2008, Nacional, p. A4

Rio, 7 de Abril de 2008 - A Petrobras aguarda só um comunicado da subsidiária brasileira da americana Exxon-Mobil para anunciar a aquisição da rede de 1,8 mil postos da Esso do Brasil. Um executivo da estatal, que pediu para não ser identificado, informou que, até a última sexta-feira, a empresa ainda não havia sido notificada da vitória pela Exxon, proprietária dos postos. Executivos que participaram do processo revelaram, no entanto, que a proposta da maior petroleira do Brasil - avaliada em até US$ 1,5 bilhão - teria superado a de todos os demais concorrentes. A oferta da Petrobras veio acompanhada de plano para driblar prováveis restrições do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que precisa ratificar a operação. A estatal já alinhavou acordo com a mineira AleSat para repassar a fatia da rede localizada nos estados do Norte e Nordeste do País, caso o órgão questione o negócio. Com a compra da rede, a estatal passaria a deter mais de 50% de participação no mercado, o que certamente será alvo de veto. Uma coisa o executivo da estatal afirma que é certo. Embora em diversas operações semelhantes o vendedor exija um prazo para mudança da bandeira - como forma de preservar a marca - a Petrobras não abre mão de usar a bandeira BR se o negócio for realmente fechado. Quando fechou a aquisição da compra dos postos Ipiranga, em março do ano passado, o acerto incluiu a preservação da marca Ipiranga por um determinado período de tempo. Com relação ao Cade, a preocupação dos executivos da Petrobras se justifica pelo fato de a estatal já deter a liderança, por meio da Petrobras Distribuidora (BR), com 41,2% de participação - de acordo com dados do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom). Se fechar a compra da rede da Esso, que detém a 5ª colocação no Brasil, com 8% do mercado, a empresa amplia uma hegemonia já questionada pelos concorrentes. Críticos da atual política advertem que a ascensão da BR constitui mais um passo na estratégia do governo para o setor. Desde que assumiu no início de 2003, o governo nunca escondeu o desconforto com o processo de abertura do setor brasileiro de petróleo e gás natural, iniciado em 1995. Desde então, adotou uma política de reforço do poder da Petrobras, paralelamente ao esvaziamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o órgão regulador do setor criado no auge do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. Um desses críticos, o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), adverte que a compra da rede da Esso contraria a necessidade da estatal de reduzir os custos administrativos, que contribuíram para reduzir em 17% o lucro líquido da Petrobras no ano passado. Toda aquisição, lembra Pires, demanda longo período de digestão dos ativos adquiridos, que precisam passar por maratona de auditorias e avaliações administrativas. "Os grandes prejudicados pela compra da Esso são os acionistas da própria Petrobras, os consumidores do País e as demais distribuidoras", critica Pires, ao lembrar que o segmento de distribuição já foi o mais competitivo da cadeia petrolífera brasileira. "Por outro lado, o grande beneficiário é o projeto político do partido do governo (PT). Por incrível que pareça, a Petrobras se encaminha para se tornar mais monopolista do que era antes da abertura do setor." (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(