Título: Déficit comercial da saúde fica próximo de US$ 6 bi
Autor: Nascimento, Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/04/2008, Empresas, p. C1
São Paulo, 7 de Abril de 2008 - O déficit comercial brasileiro na área da saúde - quando levados em consideração os números das balanças dos setores de produtos farmacêuticos, incluindo medicamentos, farmoquímicos e equipamentos e insumos médico-hospitalares - ficou perto dos US$ 6 bilhões (FOB) no ano passado, um crescimento substancial, de 36%, quando comparado aos US$ 4,4 bilhões de 2006. Na área de produtos farmacêuticos o déficit foi de US$ 2,77 bilhões, um aumento de 40%. A balança comercial negativa de farmoquímicos e adjuvantes farmacotécnicos (matéria-prima utilizada na composição dos medicamentos) cresceu de US$ 870 milhões em 2006 para US$ 1,29 bilhão no ano passado, alta de 48%. Já na área de equipamentos e insumos médico-hospitalares, como já publicado na Gazeta Mercantil, o déficit se aproximou de US$ 1,9 bilhão, expansão de mais de 25%. "A balança comercial da saúde já teve um déficit mais civilizado. Está chegando a um nível insustentável. Estamos cada vez mais longe de reduzir essa dependência, e em uma área estratégica", disse o presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria de Química Fina (Abiquif), José Correia da Silva, que atribui o resultado não apenas ao câmbio favorável às importações como também ao processo mais acelerado no Brasil de obtenção de registros de produtos, principalmente medicamentos acabados importados. "Tenho a impressão de que a vantagem de um portfólio importado em relação ao nacional fica perto de um ano." A explicação para tal velocidade, segundo disse, é que os importados já têm dossiês, como os de testes farmacotécnicos, completamente prontos, bastando apenas serem traduzidos e submetidos aos órgãos reguladores, enquanto a produção local precisa começar do zero. "Com o dólar atual e essa agilidade é mais atrativo importar. Não tem custo de produção interno, não ocupa a capacidade, o que é mais fácil para experimentar a aceitação no mercado", afirmou, explicando que o produto importado diminui riscos, é boa ferramenta de marketing porque, além de encurtar o caminho de chegada ao mercado, não requer muitos investimentos na implantação - como construção de linhas de produção apropriadas - e, se o medicamento não tiver boa aceitação, as perdas serão menores. "Isso pesa na hora da decisão", afirmou Silva, observando que a afirmativa vale tanto para os laboratórios nacionais quanto para os de capital estrangeiro. Levantamento da Abiquif, com base em informações da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), mostra que em 2007 as importações de medicamentos prontos na embalagem e à granel, derivados de sangue, vacinas (exceto de uso veterinário) e preparação químicas contraceptivas à base de hormônios ou espermicidas totalizaram US$ 3,11 bilhões, enquanto as exportações somaram US$ 564,6 milhões, o que resultou em um déficit de US$ 2,55 bilhões. Em 2006, foi de US$ 2,02 bilhões. O capítulo da Secex que trata só de medicamentos prontos, o 3004, informa que as importações atingiram US$ 2,25 bilhões, ante US$ 1,71 bilhão de 2006. Neste capítulo o déficit passou de US$ 1,27 bilhão em 2006 para US$ 1,74 bilhão em 2007, conforme a Abiquif. O presidente-executivo da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), Ciro Mortella, não observa o déficit na área da saúde como um problema. Segundo afirmou, a balança comercial não deve ser analisada como "mera aritmética". "O importante é que os números mostram um aumento da atividade. As importações subiram sim, mas as exportações também cresceram, passaram de US$ 150 milhões para US$ 750 milhões nos últimos dez anos (somente de produtos farmacêuticos) e o mercado interno também cresceu." Dados do Grupo dos Profissionais Executivos do Mercado Farmacêutico (Grupemef), disponíveis no site da Febrafarma, indicam que as importações de produtos farmacêuticos, incluindo medicamentos e excluindo farmoquímicos, totalizaram US$ 3,52 bilhões no ano passado, alta de 34,9% ante 2006. Já as exportações foram a US$ 745,6 milhões, um avanço de 19,86%. No primeiro bimestre deste ano, as compras externas foram de US$ 573,64 milhões e as exportações somaram US$ 132,95 milhões. Conforme a pesquisa da Abiquif, o Brasil importou US$ 1,64 bilhão em farmoquímicos e adjuvantes farmacotécnicos em 2007, em comparação aos US$ 1,15 bilhão do ano anterior. As vendas externas foram de US$ 351,6 milhões, ante os US$ 286 milhões de 2006. A produção local estimada cresceu de US$ 530 milhões em 2006 para US$ 616 milhões no ano passado. De acordo com os dois levantamentos, somente a cadeia farmacêutica registrou importações de US$ 5,16 bilhões (alta de 37,6% ante o ano anterior) para exportações de US$ 1,09 bilhão, o que resultou em déficit de US$ 4,07 bilhões em 2007, alta de 42,8% sobre o ano anterior. Os efeitos colaterais desse crescimento são imediatamente a perda da capacidade tecnológica de produção do setor, disse o presidente da Abiquif, ressaltando ainda outros riscos, como uma eventual mudança desfavorável na cotação do dólar, possibilidades de retração econômica interna e aumentos de preços nos principais mercados que abastecem o País, que poderiam levar a uma situação de desabastecimento em algumas classes terapêuticas mais dependentes. Silva explicou que o crescimento da importação de farmoquímicos em 2007 foi impactado não apenas por maiores volumes de compras de produtos com maior valor, mas por reajustes em alguns mercados como a China, que elevou entre 20% e 30% seus preços. "E o Brasil teve que absorver. É claro que absorveu melhor por conta do dólar, mas se a moeda norte-americana estivesse mais alta?", questionou. A alta dos preços na China decorreu da redução dos incentivos do governo chinês ao setor e também da queda na oferta, resultado do fechamento de fábricas por conta da implantação de regras ambientais mais rígidas, afirmou.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)()