Título: Assassino confesso, mas preso por ameaça
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2011, Brasil, p. 6

Fácil de matar Antônio Sousa matou a mulher, Geysa Cruz, queimada. Mas só foi para a cadeia por dizer que atacaria a família dela

Nem mesmo as três crianças presentes quebravam os longos momentos de silêncio da casa simples, em Santo Antônio do Descoberto, cidade goiana a 56km de Brasília, uma semana após a morte da filha mais velha da família. Mãe, padrasto, quatro irmãos, dois cunhados, uma sobrinha e o filho tinham diferentes reações ao lembrar de Geysa Maciel dos Santos Cruz, 23 anos. Uns falavam com revolta. Outros se limitavam a chorar. Havia os que preferiam ficar calados. Sons eram mesmo desnecessários: todos os semblantes traziam em comum as marcas do sofrimento.

Esfaqueada e agredida com uma chave de fenda, Geysa ainda estava viva ao ser jogada em um buraco, às margens de uma rodovia do Distrito Federal, a DF-290, onde o companheiro de quase nove anos, Antônio Carlos Moreira Sousa, 26 anos, ateou fogo no corpo dela. Assassino confesso, ele está preso não pela morte de Geysa, mas por ameaçar a família da vítima.

Ciúme é o motivo apontado pela polícia para o crime, ocorrido no dia 8. A brutalidade com que a vida da filha terminou ainda abala Maria Maciel Rosa Cruz, 39 anos, que chora ao falar de seus últimos momentos com a primogênita . A jovem tinha se ausentado do emprego ¿ entregava panfletos de uma empresa de turismo ¿ para acompanhar Antônio no enterro do padrasto dele. Ao fim da tarde, as duas conversaram por telefone pela última vez. Geysa disse que voltaria naquela noite. Não foi assim.

A preocupação só veio dois dias depois, quando Antônio foi à casa da família para buscar suas coisas ¿ ele passou o último mês ali. O rapaz alegou não saber do paradeiro da mulher e insistiu para levar consigo o filho do casal. Foi impedido por Maria, desconfiada. ¿Quando ele apareceu aqui perguntando por ela, eu já sabia que tinha acontecido alguma coisa. Falei que daria queixa do desaparecimento e ele deu pressa de ir embora¿, conta a mãe. No dia seguinte, o assassino se entregou à polícia e confessou o crime.

Geysa tinha 15 anos quando abandonou a família no interior baiano. Saiu de Barra do Rocha, a 378km de Salvador, e veio tentar a sorte em Brasília. Pouco a pouco a mãe, o padrasto, os irmãos e cunhados também migraram para o Entorno de Brasília. Em menos de um ano, Geysa conheceu Antônio e engravidou do único filho, Carlos Ralf Souza Cruz, 8 anos. A maternidade mudou as prioridades de Geysa, que só pensava em dar uma vida melhor à criança. Entre temporadas na Bahia e retornos à capital federal, a jovem sempre voltava a viver com o homem que a acabaria assassinando.

Pouco antes de morrer, ela revelou à mãe sua infelicidade e o medo de deixar Antônio Carlos, que a ameaçava. ¿Eles nunca viveram bem. Quando ela o largava, ele ligava, chorava e minha filha, sempre muito boa e inocente, voltava¿, lembrou Maria. Ela afirma que vai lutar para conseguir a guarda definitiva do neto. ¿Quero dar ao meu neto tudo o que minha filha desejava, fazer dele tudo o que ela queria que ele fosse¿. Geysa trabalhava para pagar a escola, dar roupas, comida e brinquedos para o filho. Ralf escreveu o nome da mãe na parede da sala dos avós.¿Ela queria comprar uma casa para viver com o Ralf longe daquele monstro. Quero que ele pague pelo que fez. Não desejo que ele morra, mas que sofra ainda mais do que está nos fazendo sofrer¿, desabafou Maria.